A Lei e o Evangelho - Sermão de 02/04/2023
- Pastor Sérgio Fernandes
- 27 de mar. de 2023
- 9 min de leitura
Atualizado: 2 de abr. de 2023

Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê. Romanos 10:4
Introdução
Neste ano de 2023, escolhemos como nosso tema anual a maturidade cristã. É uma decisão ousada, uma vez que nos coloca distante da sopa de letrinhas do movimento evangélico atual para um mergulho um pouco mais fundo naquilo que de fato representa o cristianismo bíblico e histórico.
Além disso, exige também que troquemos as mensagens rasas de autoajuda por reflexões sinceras e honestas sobre a fé e a vontade de Deus para nossas vidas.
Essa reflexão introduzirá a nossa nova série #MarcosAntigos e ela é a sequência natural do que temos construído desde o começo desse ano.
Uma vez que compreendemos a nossa nova identidade como filhos perdoados de Deus, precisamos entender como viver uma vida agradável a Ele. E essa compreensão acontece quando somos capazes de relacionar a Lei e o Evangelho corretamente, para não vivermos vidas cristãs deformadas e que em nada glorificam a Deus.
A justiça como atributo de Deus
Iniciaremos essa reflexão nos recordando de um dos atributos de Deus,que é a Sua justiça. Deus, Nosso Senhor, é o Justo Juiz e a fonte de toda a perfeição que existe no universo que Ele criou.
Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, bondoso em todas as suas obras. Salmos 145:17
O caráter pessoal de Deus é perfeito e Ele próprio é o padrão máximo de justiça e retidão. Suas ações são perfeitas porque Ele é perfeito.
Deus nunca é arbitrário, caprichoso ou extravagante, Ele sempre faz o que é reto e traz glória ao Seu nome.
Bom e reto é o Senhor , por isso aponta o caminho aos pecadores. Salmos 25:8
Por isso, ao criar o universo, Deus o estabeleceu debaixo de sua lei. Toda a criação se submete aos santos princípios do Todo Poderoso!
Uma aplicação necessária nessa ponto da reflexão é que precisamos aceitar o que Deus diz a respeito de si mesmo e da Sua vontade na Palavra, mesmo que isso seja estranho para nossa compreensão e entendimento.
Nossa sociedade pós-moderna esforça-se para domesticar a Deus e torná-lo mais acessível à cultura dos dias atuais. Mas Deus é o que Ele É. Tudo o que a Escritura diz a respeito dEle é verdade e qualquer tentativa minha de adaptá-lo às minhas percepções produzirá um ídolo criado à minha imagem e semelhança. Deus não se dobra à cultura.
Muitos cristãos adoram versões idealizadas de Deus e não o Deus verdadeiro. Deus não precisa de advogados para o defenderem, Ele é o Senhor Soberano perante o qual todo o joelho de dobrará!
A relação da humanidade com a Lei
Por sermos criados por Deus e carregarmos a Sua Imagem, Ele requer que vivamos de acordo com a sua lei.
Adão, o primeiro homem, recebeu do próprio Criador a ordem de obedece-lo. Ele foi colocado debaixo da lei como princípio operante em seu relacionamento com Deus. Se ele obedecesse as Leis Divinas perfeitamente, seria abençoado; se as desobedecesse, seria amaldiçoado.
Nós conhecemos a história bíblica: A desobediência de Adão à lei de Deus trouxe a maldição para toda a raça humana.
Paulo descreve essa realidade na epístola aos Romanos. Os gentios estão debaixo dessa maldição porque desobedecem a norma da lei, que foi gravada por Deus em seus corações.
Quando, pois, os gentios, que não têm a lei, fazem, por natureza, o que a lei ordena, eles se tornam lei para si mesmos, embora não tenham a lei. Estes mostram a obra da lei gravada no seu coração, o que é confirmado pela consciência deles e pelos seus pensamentos conflitantes, que às vezes os acusam e às vezes os defendem, Romanos 2:14,15
Os judeus estão debaixo da mesma maldição, porque transgridem a lei que Deus lhes entregou por intermédio de Moisés.
Ora, sabemos que tudo o que a lei diz é dito aos que vivem sob a lei, para que toda boca se cale, e todo o mundo seja culpável diante de Deus. Porque ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, pois pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Romanos 3:19,20
Muitos evangélicos de nossos dias acreditam numa falsa premissa de que por estarmos na "era da graça" a lei de Deus deixou de ter relevância.
É uma compreensão bisonha, como se estivéssemos afirmando que por causa da graça Deus deixou de ser justo e deixou de exigir a obediência de Suas criaturas.
A graça não mudou a justiça de Deus, pelo contrário, ela estabeleceu com clareza ainda maior quem Deus É e quem nós somos!
Sem compreendermos a relação da Lei e do Evangelho, seremos vítimas de dois erros teológicos grosseiros: o antinomianismo ou o legalismo.
O antinomianismo defende que a graça de Cristo aboliu toda a lei, inclusive seus preceitos morais. Muitos seguem essa forma de crença sem saber: vivem vidas indisciplinadas, cheias de pecado, sem amor por Deus e ao próximo, sem limites e quando são confrontadas afirmam com convicão: "estou na graça". Uma graça que tolera o pecado não é a graça de Cristo.
Que diremos, então? Continuaremos no pecado, para que a graça aumente ainda mais? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós, que já morremos para ele? Romanos 6:1,2
O legalismo defende que a justificação é resultado da perfeita obediência à lei. Muitos cristãos brasileiros são legalistas sem perceber: eles buscam serem aceitos por Deus por observarem regras e padrões de comportamento estabelecidos por suas igrejas.
Para eles, a morte de Cristo na cruz não foi uma salvação real, mas uma 'chance de serem salvos', que será confirmada se eles permanecerem obedecendo. O legalista falha ao buscar justificação fora de Cristo e, o pior, por não considerar a própria incapacidade de cumprir a lei de Deus perfeitamente.
sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Jesus Cristo, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois por obras da lei ninguém será justificado. Gálatas 2:16
O uso triplice da lei
Os reformadores viveram a tensão de, à luz das Escrituras, relacionarem a lei e o evangelho para aplicarem esses princípios em sua vida cristã, uma vez em que, no contexto da reforma protestante, a visão dominante proclamada pelo catolicismo era a de salvação pelas obras.
João Calvino, por exemplo, deixou registrado nas Institutas aquilo que ele chamou de "uso tríplice da lei" com o fim de mostrar que a lei, sim, é de extrema importância para os cristãos, quando observada dentro dos limites ensinados pela própria Escritura.
A primeira utilidade da lei é servir ao cristão como um espelho. Ela reflete a perfeita retidão de Deus a ponto de ressaltar a malignidade do nosso coração. Nós podemos ter consciência da nossa pecaminosidade quando estamos em contato com a lei divina.
Porque ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, pois pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Romanos 3:20
A segunda utilidade da lei é restringir o mal. Embora a lei não tenha poder de mudar o coração do homem, seus princípios coibem a raça humana de afundar profundamente no pecado. As restrições impostas por ela, sejam por força de lei ou agindo na consciência, preservam os seres humanos de serem tão maus quanto eles poderiam ser.
Que diremos, então? Que a lei é pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, a não ser por meio da lei. Porque eu não teria conhecido a cobiça, se a lei não tivesse dito: "Não cobice." Romanos 7:7
A terceira utilidade da lei é revelar o que é agradável a Deus. Como filhos perdoados, a lei nos informa aquilo que é agradável ao nosso Pai Celestial. A partir do momento que a redenção é aplicada em nosso coração, passamos a ter prazer na lei de Deus e desejamos obedecê-la, como resultado natural da experiência da salvação.
Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Romanos 7:22
Perceba que as Escrituras determinam a validade da lei para nossa experiência cristã! Nós não podemos ignorar algo que, segundo Paulo, é santo, justo e bom!
Como, então, relacionaremos a lei com o evangelho?
CONCLUSÃO
Como vimos, a lei de Deus é de vital importância para a nossa vida espiritual. Nós precisamos da lei para sermos conduzidos à Jesus Cristo e participarmos das promessas do evangelho. A lei evidencia nossa estado de pecaminosidade e nos faz desejar ardentemente por um Salvador!
Jesus afirmou no evangelho que não veio para abolir a lei, mas para a cumprir! Isso significa que para que a promessa da salvação chegasse a nós, Cristo veio como o cumprimento da lei e, ao mesmo tempo, para ser o homem que a obedeceu perfeitamente.
"Não pensem que eu vim abolir a lei de Moisés ou os escritos dos profetas; vim cumpri-los. Eu lhes digo a verdade: enquanto o céu e a terra existirem, nem a menor letra ou o menor traço da lei desaparecerá até que todas as coisas se cumpram. Mateus 5:17,18
Jesus cumpriu a lei para nós e por nós!
Paulo ressaltou que a lei serviu como um guardião que nos protegeria até que Cristo nos trouxesse a graça e a verdade.
Antes que o caminho da fé se tornasse disponível, fomos colocados sob a custódia da lei e mantidos sob a sua guarda, até que essa fé fosse revelada. Em outras palavras, a lei foi nosso guardião até a vinda de Cristo; ela nos protegeu até que, por meio da fé, pudéssemos ser declarados justos. Gálatas 3:23,24
Agora que Cristo veio, não precisamos mais ser guiados por esse guardião! Devemos nos render a Jesus e abraçar a fé naquele que cumpriu a Lei e pode nos declarar justos!
Jesus ofereceu-se como um sacrifício substitutivo pelos nossos pecados! Ele sofreu a ira de Deus no lugar de todos aqueles que não conseguem cumprir a Lei perfeitamente, mas que foram escolhidos para salvação.
A morte de Cristo na cruz nos livra da maldição da lei, porque Cristo credita em nossa conta a Sua obediência perfeita à Deus. Chamamos isso de justificação!
Agora, porém, conforme prometido na lei de Moisés e nos profetas, Deus nos mostrou como somos declarados justos diante dele sem as exigências da lei: somos declarados justos diante de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, e isso se aplica a todos que creem, sem nenhuma distinção. Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus, mas ele, em sua graça, nos declara justos por meio de Cristo Jesus, que nos resgatou do castigo por nossos pecados. Deus apresentou Jesus como sacrifício pelo pecado, com o sangue que ele derramou, mostrando assim sua justiça em favor dos que creem. No passado ele se conteve e não castigou os pecados antes cometidos, pois planejava revelar sua justiça no tempo presente. Com isso, Deus se mostrou justo, condenando o pecado, e justificador, declarando justo o pecador que crê em Jesus. Romanos 3:21-26
Não estamos mais debaixo da lei para sermos condenados por ela!
Estamos debaixo da graça para obedecermos a lei de Cristo!
Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Romanos 6:14
Agora podemos entender com clareza a relação entre a Lei o Evangelho:
A lei exige, a graça oferece;
A lei condena, a graça justifica;
A lei amaldiçoa, a graça abençoa;
A lei diz: "faça", a graça diz "está feito"
A lei evidencia o meu pecado, a graça, o sacrifício de Cristo na cruz!
A lei condena o melhor dos homens, a graça salva o pior!
Quero finalizar essa reflexão com duas aplicações. A primeira, a você que está em nosso meio e ainda não participa da promessa de salvação. A lei de Deus escancara nossos pecados. Deus exige do homem uma perfeita obediência! A lei nos recorda a razão de Cristo se fazer carne e morrer por nós:
Eu e você somos incapazes de cumprir com perfeição a lei de Deus e essa inadequação será punida um dia! Se nessa manhã você sente o peso dos seus pecados e deseja sinceramente livrar-se da condenação, abrace com fé a graça de Jesus Cristo.
Ele viveu uma vida perfeita para creditá-la à você! Ele sofreu na cruz a condenação por aqueles que serão perdoados e salvos por Ele. Você deseja ser livre dessa maldição? Arrependa-se e creia em Cristo!
A segunda, a você que já é um salvo em Jesus Cristo. A graça não foi dada para vivermos de qualquer maneira, sem temor ou responsabilidade pessoal, mas para sermos capacitados por Deus a obedecê-lo, sem o temor da condenação.
Cristo cumpriu a lei por nós e nos livrou da maldição da lei e não do dever de obedecê-la.
Por meio da graça, somos salvos por Cristo e para Cristo! Vivemos na esfera da Nova Aliança e temos por ela a justiça que provém da fé!
E demonstramos nosso amor, lealdade e gratidão obedecendo a lei de Cristo e fazendo aquilo que lhe é agradável!
Aqueles que aceitam meus mandamentos e lhes obedecem são os que me amam. E, porque me amam, serão amados por meu Pai. E eu também os amarei e me revelarei a cada um deles." João 14:21
O primeiro marco antigo a ser redescoberto é: o Deus Justo sempre exigirá obediência de suas criaturas! Pela graça de Jesus, Ele nos salvou da culpa do pecado e agora está nos conduzindo a mortificá-lo em nossas vidas, até que a própria presença do pecado seja arrancada de nossos corações e de todo o universo!
Que Ele nos ajude a sermos obedientes até o fim!

Pastor Sérgio Fernandes
Pastor Titular da IPR
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