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Fugindo do Chamado - Sermão 04/07/2021





A palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai com esta ordem: "Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença". Jonas 1:1,2

Introdução


Por todo o mês de julho, permitindo o Senhor, estaremos reunidos meditando no livro do profeta Jonas. Esse texto me veio ao coração como resposta do meu próprio clamor a Deus, no sentido de possuir a certeza de estar fazendo tudo aquilo que Ele tem confiado a mim, sem pestanejar. O livro de Jonas tem essa peculiaridade dos escritos inspirados da Escritura, de poder ser lido em diversas camadas de aplicação pessoal, uma vez que ele abarca diversos temas distintos e que são fantásticos para nossa edificação pessoal.


Em Jonas, lemos sobre a vocação divina, o ministério, nossas fugas, arrependimento, evangelização, universalidade da salvação e o modo como tentamos nos apropriar da religião como uma forma de autosssatisfação e não como uma causa que deve ser defendida e proclamada para a glória de Deus. Todos esses temas surgem no contexto do livro e eu desejo de coração que essa palavra lhe inspire a ser um cristão com outros olhos, para a glória de Deus.



o contexto do livro


Não há muitas dúvidas a respeito da autoria do livro. A maior parte dos estudiosos considera que Jonas tenha sido não apenas personagem da história, mas o autor do escrito. Contudo, à parte do livro, sabemos muito pouco a respeito do profeta. O pouco que pode ser lido a seu respeito no Antigo Testamento encontra-se em 2 Rs 14.23-25.


No décimo quinto ano do reinado de Amazias, filho de Joás, rei de Judá, Jeroboão, filho de Jeoás, rei de Israel, tornou-se rei em Samaria e reinou quarenta e um anos. Ele fez o que o Senhor reprova e não se desviou de nenhum dos pecados que Jeroboão, filho de Nebate, levara Israel a cometer. Foi ele quem restabeleceu as fronteiras de Israel desde Lebo-Hamate até o mar da Arabá, conforme a palavra do Senhor, Deus de Israel, anunciada pelo seu servo Jonas, filho de Amitai, profeta de Gate-Héfer. 2 Reis 14:23-25

Segundo essa informação contida no texto bíblico, acreditamos que o ministério de Jonas tenha acontecido entre 750-613 a.C, período anterior ao exílio babilônico, nos dias do reinado de Jeroboão. Foi graças ao ministério de Jonas que o rei de Israel restabeleceu as fronteiras da nação. Nada mais é dito a seu respeito em todo o Antigo Testamento.


Além disso, é importante notarmos que Jonas é um livro repleto de relatos sobre ações sobrenaturais de Deus, a saber: a revelação que Jonas recebeu, a tempestade no mar, o grande peixe, um arrependimento generalizado dos Ninivitas, o crescimento de uma aboboreira e sua destruição repentina, o que faz com que muitos críticos o tenham como uma parábola e não como um livro histórico. Contudo, Jesus faz uso da mensagem do livro, o que chancela os seus relatos como verídicos e históricos. Por exemplo, leiamos em Mateus 12.38-41.


Então alguns dos fariseus e mestres da lei lhe disseram: "Mestre, queremos ver um sinal miraculoso feito por ti". Ele respondeu: "Uma geração perversa e adúltera pede um sinal miraculoso! Mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal do profeta Jonas. Pois assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre de um grande peixe, assim o Filho do homem ficará três dias e três noites no coração da terra. Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração e a condenarão; pois eles se arrependeram com a pregação de Jonas, e agora está aqui o que é maior do que Jonas. Mateus 12:38-41

Assim como Jesus considerou o livro de Jonas como um fato histórico e um excelente recurso para sua pregações, queremos com a graça de Deus extrair desse livro uma porção considerável do coração de Deus ao nosso coração!


o chamado de jonas


A palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai com esta ordem: "Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença". Mas Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis. Desceu à cidade de Jope, onde encontrou um navio que se destinava àquele porto. Depois de pagar a passagem, embarcou para Társis, para fugir do Senhor. Jonas 1:1-3

Todas as pessoas que Deus usa soberanamente no cumprimento dos seus propósitos recebem de Deus uma palavra. Foi assim com os profetas no AT, com os apóstolos e o próprio Cristo, que é a Palavra de Deus encarnada. Não foi diferente com Jonas. Ele recebeu uma palavra específica da parte do Senhor, só que, diferente do usual, esse palavra não dizia respeito à Israel, mas aos ninivitas, um povo opressor e historicamente inimigo dos israelitas.


Esse é um fato que deve ser levado em conta por todos nós na leitura do livro. Nínive era a capital do império Assírio, cidade conhecida por sua violência e pelo modo tirano com o qual tratava escravos estrangeiros. Ao receber a palavra para pregar aos ninivitas, Jonas certamente enfrentou no coração tanto o medo de ser capturado e torturado por essa gente quanto os sentimentos nacionalistas tão comuns aos israelitas. Talvez ele tenha considerado como seria pregar a palavra de Deus a um povo inimigo.


Sendo assim, sua decisão foi a de não corresponder ao chamado de Deus e, de alguma forma, fugir de sua presença. Suas decisões tolas são expressas rapidamente na introdução do livro, sem que existam detalhadas suas motivações, uma vez que elas parecem estar bem óbvias aos seus leitores. Vejamos:


  • "Jonas fugiu da presença do Senhor", isto é, deu as costas à palavra de Deus e ao serviço para o qual foi comissionado.

  • "Dirigiu-se para Társis", a última cidade conhecida, no extremo-oeste do continente, onde hoje provavelmente fica a Espanha. Era o caminho oposto ao da cidade de Nínive. Se Deus quer falar com Nínive, não devemos fugir para Társis.

  • "Desceu para Jope", uma cidade portuária onde ele poderia embarcar para o seu trágico destino. Sua fuga é retratada como uma descida.

  • "Pagou a passagem", profetas no Antigo Testamento não costumavam contar com muitos recursos, mas Jonas garantiu de alguma forma ter condições de pagar o preço para embarcar. E, a própria Escritura afirma sua motivação: "para fugir do Senhor".


Em sua "fuga da presença de Deus", note o que a Escritura afirma: ele desceu para Jope, de lá, desceu para o navio, desceu para o porão e depois desceu para a barriga do peixe. Fugir de Deus é sempre descer.


o deus soberano aparece


Por mais legítimas que as escusas secretas de Jonas pudessem parecer, Israel havia sido comissionado para ser uma benção às nações. A promessa feita à Abraão mostra o desejo de Deus de, por sua descêndencia, levar o conhecimento da Sua glória à todos povos. Não estava em Jonas o poder de decidir o que pregar e a quem pregar, uma vez que a salvação pertence a Deus e Ele a estende a quem Ele quiser. Leiamos Gn 12.3


Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados". Gênesis 12:3

E Jonas haveria então de descobrir, do jeito mais dificil, que é mentira aquele "dito" comum dos evangélicos de que, quando um homem não quer fazer a obra, Deus levanta outro em seu lugar. O Deus revelado na Escritura é soberano e Ele conduz com triunfo todos os seus planos, e isso inclui a vocação indvidual de cada um dos seus eleitos. Nínive deveria ouvir a pregação de arrependimento da boca de Jonas e de mais ninguém. Sendo assim, como o profeta optou por desobedecer, Deus entrou no palco da história para mostrar a Ele quem está no controle. E através de uma tempestade, o Todo Poderoso começou a lhe falar ao coração.


O Senhor, porém, fez soprar um forte vento sobre o mar, e caiu uma tempestade tão violenta que o barco ameaçava arrebentar-se. Todos os marinheiros ficaram com medo e cada um clamava ao seu próprio deus. E atiraram as cargas ao mar para tornar mais leve o navio. Enquanto isso, Jonas, que tinha descido para o porão e se deitado, dormia profundamente. Jonas 1:4,5

Perceba que enquanto Deus falava através da tempestade, os pagãos que estavam no barco se atemorizavam e tentavam aplacar a situação clamando ao seu próprio deus. No entanto, Jonas estava dormindo profundamente. Precisamos falar sobre o sono de Jonas. Quem pode dormir tranquilo fugindo de Deus? Quem pode sossegar durante uma tempestade em alto mar? O missionário estava dormindo, mas Deus estava bem acordado.


o deus soberano encontrou jonas


O capitão dirigiu-se a ele e disse: "Como você pode ficar aí dormindo? Levante-se e clame ao seu deus! Talvez ele tenha piedade de nós e não morramos". Então os marinheiros combinaram entre si: "Vamos tirar sortes para descobrir quem é o responsável por esta desgraça que se abateu sobre nós". Tiraram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Jonas 1:6,7

Deus intervém na história nos detalhes. Situações sucessivas vão afunilando a narrativa até que Jonas é colocado no palco divino para entender que não seria possível fugir do seu chamado. Perceba que o profeta fugiu da presença, mas a presença não tirou os olhos dele em nenhum momento. E agora, após ser acordado pelo capitão do navio, Jonas vê suas tolas convicções desabando quando ele é descoberto em um simples lançamento de sortes. Nesse momento então, a Escritura afirma que Jonas se revelou aos demais tripulantes do navio.


Por isso lhe perguntaram: "Diga-nos, quem é o responsável por esta calamidade? Qual é a sua profissão? De onde você vem? Qual é a sua terra? A que povo você pertence? " Ele respondeu: "Eu sou hebreu, adorador do Senhor, o Deus dos céus, que fez o mar e a terra". Com isso eles ficaram apavorados e perguntaram: "O que foi que você fez? ", pois sabiam que Jonas estava fugindo do Senhor, porque ele já lhes tinha dito. Jonas 1:8-10

Exposto pelo Senhor à todos os demais, Jonas dá um passo importante retomando sua vocação e pregando àqueles homens. Ele se apresenta como hebreu, reconhecendo ser israelita e diz que adora ao Senhor Deus dos céus, que fez o mar e a terra. Nessa afirmação, ele está dizendo com clareza quem é o Criador e que somente poderão suportar a tempestade no mar e chegar em terra firme pela bondosa providência de Deus. Essas palavras causaram assombro nos ouvintes, porque quando a verdade é pregada, os corações são impactados por ela!


Visto que o mar estava cada vez mais agitado, eles lhe perguntaram: "O que devemos fazer com você, para que o mar se acalme?" Respondeu ele: "Peguem-me e joguem-me ao mar, e ele se acalmará. Pois eu sei que é por minha causa que esta violenta tempestade caiu sobre vocês". Ao invés disso, os homens se esforçaram ao máximo para remar de volta à terra. Mas não conseguiram, porque o mar tinha ficado ainda mais violento. Então eles clamaram ao Senhor: "Senhor, nós suplicamos, não nos deixes morrer por tirarmos a vida deste homem. Não caia sobre nós a culpa de matar um inocente, porque tu, ó Senhor, fizeste o que desejavas". Jonas 1:11-14

É interessante notarmos no texto que, embora os sentimentos nacionalistas de Jonas o tivessem impedido de se preocupar com o bem-estar espiritual dos pagãos, os pagãos não quiseram no primeiro momento fazer mal ao profeta, antes, se esforçaram ao máximo para preservá-lo com vida! Contudo, quanto mais tentavam fazer as coisas da sua maneira, mais pesada ficava a mão de Deus sobre eles. Eu imagino Jonas refletindo naquele momento a respeito de quantas pessoas estavam sofrendo por sua constante desobediência. Isso deve gerar em nós um sentimento piedoso. Quando obedecemos a Deus, abençoamos as pessoas à nossa volta, mas quando desobedecemos, nos tornamos causa de provas e aflições.


Os pagãos estão invocam a Deus e lançam Jonas ao mar. Imediatamente, a tempestade cessa. Pela ação sobrenatural do Espírito do Senhor, aqueles corações idólatras passam a adorar somente a Deus. Que contraste incrível: pagãos orando e adorando e o profeta paralisado pelo peso da sua desobediência. O missionário errante, percebeu que quando não obedecemos ao Senhor, sofreremos revezes que não podem ser mensurados. Como costumo brincar, Jonas não quis ir de cavalo para Nínive, acabou tendo que ir de peixe.


Então, pegaram Jonas e o lançaram ao mar enfurecido, e este se aquietou. Ao verem isso, os homens adoraram ao Senhor com temor, oferecendo-lhe sacrifício e fazendo-lhe votos. Então o Senhor fez com que um grande peixe engolisse Jonas, e ele ficou dentro do peixe três dias e três noites. Jonas 1:15-17

aplicações do texto


A primeira coisa que precisamos refletir sobre o texto que lemos é que, diferente de Jonas, não temos o direito de pensar que as bençãos do evangelho devam ser guardadas a sete chaves no limites da igreja. Essa palavra libertadora que recebemos deve ser proclamada em alta voz, a cada povo, tribo urbana, nichos sociais e etnias. Não devemos filtrar a graça, porque se esse evangelho nos salvou, pode salvar toda e qualquer pessoa. A salvação pertence ao Senhor.


E clamavam em alta voz: "A salvação pertence ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro". Apocalipse 7:10

A segunda coisa que precisamos refletir sobre o texto é que nós, como Jonas, podemos estar sendo negligentes com o chamado que recebemos. O chamado bíblico não é algo que Deus ainda vai nos revelar, mas algo que já foi ordenado na Escritura Sagrada. Deus deseja que a igreja glorifique a Deus em todas as coisas (1 Co 10.31), evangelize e faça discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19,20) e dedique-se continuamente na sua santificação (1 Ts 4.3). Quantos de nós temos convivido com "ladrões de chamado", tais como a preguiça, o culto ao entretenimento, o mundanismo, o orgulho, o egoísmo, a rebeldia de coração, a militância por causas que não são eternas e que não podem salvar o homem da condenação. Será que o sono de Jonas não é o nossa sonolência espiritual? Não tem faltado em nós empenho e dedicação pela causa do Mestre? Temos pensado em algum momento que estamos "fazendo muito pelo Senhor"? Que Deus nos ajude a olharmos para a Escritura e redescobrirmos o prazer de obedecer as palavras que Ele nos deixou.


cristo, nosso profeta obediente


Há muitos paralelos entre o ministério de Cristo e o livro de Jonas, mas hoje, quero trazer apenas um: o contraste entre a desobediência do profeta e a obediência do Filho. Ambos foram vocacionados para pregar. Os dois pregariam aos inimigos de Deus. Mas um deles desobedeceu e o outro foi fiel até a morte, e morte de cruz. Cristo pregou a nós, miseráveis pecadores, nos apontando ao céu e revelando ser Ele o único caminho de salvação.


Graças a sua fidelidade, milhões de eleitos já foram reunidos à universal assembleia dos santos e pelo seu sangue derramado na cruz, estes foram purificados dos seus pecados, e por sua ressurreição, foram justificados para viverem como amigos de Deus, em novidade de vida. Como poderemos ser desobedientes se Ele obedeceu? Por que fugiremos de sacrifícios em vida, se Ele entregou sua vida por nós na cruz. Como amaremos a vida de pecados, se foi por eles que Ele padeceu para nos salvar?


Por isso, você que ainda não é cristão, não deixe que as ilusões dessa vida te encaminhem para as densas trevas da condenação, antes, corra de volta aos braços amorosos do Seu Criador, que estão prontos para lhe receber! E você, servo de Deus, mergulhe com confiança na obediência ao Senhor e viva para cumprir o Seu chamado!


Que Ele te abençoe!



Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR


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