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O Segundo Mandamento - Sermão de 16/04/2023

Atualizado: 17 de abr. de 2023




E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas". Mateus 22:39,40

Introdução


Essa é a terceira reflexão da série Marcos Antigos. Falamos a respeito da relação da Lei com o Evangelho na primeira mensagem e a respeito do primeiro e grande mandamento, no domingo passado.


Hoje, permitindo o Senhor, falaremos sobre o segundo mandamento.


Enquanto refletia à respeito desse tema, me imaginei qual seria o impacto causado por uma comunidade que ama a Deus sobre todas as coisas em meio à nossa sociedade. O que pessoas que são perdoadas pelo Senhor e amadas por Ele fazem como cidadãs de um mundo que vive um verdadeiro caos em seus valores?


Essas pessoas são ordenadas por Deus a amarem umas as outras.


Ao longo da história da igreja, o povo cristão de tempos em tempos deixou o amor em segundo plano enquanto tentava encontrar o seu lugar no mundo:


  • Na era dos pais da igreja, o amor deu lugar a apologética;

  • Quando a Igreja tornou-se religião oficial do império, o amor deu lugar ao estadismo cristão;

  • Na Idade Média, o amor deu lugar às busca pelo poder e pelas riquezas;

  • Na pós-reforma, o amor deu lugar ao academicismo teológico morto;

  • Com a chegada do avivamento pentecostal, a igreja trocou o amor pela busca por experiências místicas e sobrenaturais;

  • Nos dias hodiernos, o amor deu lugar ao moralismo cego;


A Igreja é constantemente tentada à substituir o amor ao próximo com a fonte que move à sua participação na missão de Deus. Mas a Palavra de Deus é firme em posicionar o amor como a expressão máxima do cumprimento da lei de Deus!


Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá. 1 Coríntios 13:1-3





COMPREENDENDO O AMOR PELA PERSPECTIVA CRISTÃ


A palavra "amor" está muito em voga na sociedade hodierna, sendo inclusive usado pelos progressistas para estimular a ampla aceitação de práticas de coisas que são estranhas não somente à cultura mas também aos valores judaico-cristãos.


Em nome do amor pregado pela cultura atual, devemos fazer vista grossa às imoralidades que infestaram à sociedade e ter posição contrária à esses valores é ser visto como alguém "que não ama".


Para cristãos que sentem-se tentados à se amoldar à cultura atual, lembrem-se que o testemunho da Escritura quanto à sociedade humana é bastante negativo!


Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno. 1 João 5:19

Não participem das obras infrutíferas das trevas; antes, exponham-nas à luz. Porque aquilo que eles fazem em oculto, até mencionar é vergonhoso. Efésios 5:11,12

O amor ensinado pelas Escrituras vem da expressão grega 'agape', que não se trata de um amor emocional ou de autossatisfação, mas sim, de um amor marcado pela ausência de interesse próprio, um amor sacrificial.


Foi esse o amor que Deus sentiu pelos pecadores que foram salvos pela cruz de Jesus Cristo e é esse amor que Ele deseja que tenhamos uns pelos outros.


"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16

Esse amor que Ele demonstrou por nós fundamenta o tipo de amor que Ele espera que tenhamos uns pelos outros, primeiro, pelos domésticos da fé e, em seguida, por qualquer próximo que Ele permitir que sirvamos em amor.


Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. João 13:34

Esse amor não pode ficar restrito ao nosso "Clube do Bolinha" religioso, ele deve estender-se até aqueles que compõe o grupo de opositores de nossa fé. Jesus se apropriou de uma interpretação equivocada que os fariseus davam ao mandamento de amar e o ressignificou, trazendo à luz a vontade de Deus para o Seu povo!


"Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Mateus 5:43-45

Para nós, cristãos, o amor é mais do que um sentimento, é uma decisão voluntária e obediente, que reflete em nós o caráter do próprio Deus.


É importante frisar que o amor ensinado por Cristo é um amor que é experimentado pela perspectiva da verdade. A verdade não deve ser sacrificada pelo amor e não existe amor verdadeiro se a verdade do evangelho for desprezada.


A Igreja segue a verdade em "amor".


Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. Efésios 4:15


Não existe um terceiro mandamento


A Igreja, envenenada pela pós modernidade e pelo hedonismo que marca a nossa geração, passou a ensinar nos últimos anos que o segundo mandamento é dividido em duas partes: "amar ao próximo" e "amar a si mesmo". Essa é uma das maiores falácias que cometemos em termos da doutrina cristã.


Primeiro, porque é resultado de um erro de interpretação de textos típico de quarta série. Jesus ordenou que amemos ao próximo como amamos a nós mesmos, dando um sentido de similaridade e não de complementação.


Segundo, porque é um erro hermenêutico infantil. Ao terminar sua explanação, Jesus afirmou com clareza: "destes dois mandamentos depende toda a Lei e os Profetas". São apenas dois, o terceiro a gente inventou.


A mentalidade de "amar a si mesmo" é um reflexo de nossa cultura, que ama o prazer, ama o bem-estar e tem dificuldade de sacrifício e doação. Por isso, somos uma geração de cristãos tão pouco engajada, porque colocamos sempre os nossos interesses à frente dos interesses de Deus.


Perceba como refletimos esse egoísmo até mesmo na forma como nos relacionamos com Deus e com a igreja?


É comum falarmos as seguintes expressões: "Meu ministério", "meu chamado", "minha obra". Por negligenciarmos o mandamento de Deus, temos feito do cristianismo uma religião de autossatisfação.


O segundo mandamento me ensina que eu satisfaço os interesses de Deus "no próximo" e não em mim mesmo. Cristãos vivem para Deus e para seu próximo! O sacrifício do ego é parte natural de uma boa prática cristã.


Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. 2 Coríntios 5:14,15


Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Filipenses 2:3,4


Praticando o Segundo Mandamento


A Igreja hodierna está asfixiada com muitos assuntos secundários da fé, deixando de lado a prática do amor como a maior expressão de nossa religião.


Somos uma geração viciada nos púlpitos, nas programações regulares de nossas igrejas, nos êxtases religiosos, nos vídeos de YouTube, porque todas essas coisas dizem respeito a nós mesmos e não ao próximo.


Jesus convida a Sua Igreja, contudo, a mergulhar na prática do amor e se esforçar para "temperar" com ele cada detalhe de nossas vidas e a sociedade onde estamos inseridos!


Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão. 1 João 4:21

Eu venho de uma tradição cristã que valorizava suas regras de conduta em detrimento do amor ao próximo. Eu muito me vangloriava por seguir à risca os preceitos religiosos que recebia, mas conforme fui crescendo no conhecimento da fé e, principalmente, da história do cristianismo, eu percebia que a conta não fechava.


De que adiantava todo o meu zelo se ele não era traduzido em amor ao próximo?


Essa foi uma das crises que despertou meu coração para aceitar o chamado de Deus e plantar a Igreja Pentecostal Reformada.


Por isso, procuramos investir em trabalhos que contribuam para que cristãos pratiquem com regularidade cada vez maior atos de amor por seus semelhantes. Me perdoe a franqueza, mas ela é necessária nesse momento: Se não nos esforçarmos sinceramente em amar nossos semelhantes:


  • Pouco importa a quantidade de línguas espirituais que você afirma falar;

  • Pouco importa a profundidade do seu conhecimento teológico;

  • Pouco importa o seu zêlo religioso ou perfeccionismo espiritual;

  • Pouco importa quantos êxtases você vive ou mistérios que você conhece;


O que valida nossa condição de discípulos é o amor!


Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei. Pois estes mandamentos: "Não adulterarás", "não matarás", "não furtarás", "não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo". O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei. Romanos 13:8-10

Por isso, vocês que foram lavado do seus pecados pelo Senhor Jesus Cristo devem procurar viverem o mesmo padrão de amor que Ele próprio viveu.


Parem de se concentrar em assuntos secundários do evangelho, parem de brigar com questões teológicas não essenciais para a fé, parem de almejar espaço nos púlpitos da igreja e vivam profundamente o amor de Jesus Cristo.


  • Pessoas diretamente relacionadas a nós, seja nos ambientes de trabalho, escolares ou mesmo em nossos núcleos familiares esperam ser sinceramente amadas por nós. Olhe a sua volta, distribua amor por onde você passar!

  • Crianças nos orfanatos esperam o nosso amor para ganharem lares e uma família;

  • Moradores de rua esperam nosso amor para receberem alimento e uma oportunidade de reintegração;

  • Famílias desestruturadas esperam nosso amor para serem acolhidas, orientadas, fortalecidas e transformadas;

  • Doentes nos hospitais esperam nosso amor para serem encorajados, cuidados e ministrados em sua recuperação;

  • Adolescentes sem identidade esperam nosso amor para terem boas referências e encontrarem o seu lugar no mundo;

  • Minorias sociais esperam o nosso amor para encontrarem acolhimento e aceitação, para criarmos oportunidades de anunciar-lhes o evangelho;


Se não praticarmos o amor, nada mais importa. Seremos apenas religiosos hipócritas gritando nossas verdades a um mundo sem vivê-las, de fato, em nosso coração.


Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor. 1 Coríntios 13:13


CONCLUSÃO


A Igreja dos dias atuais está doente. Ela ama falar línguas espirituais, porque isso não exige dela o amor. Ela ama brigar na internet por doutrinas não essenciais, porque isso não exige dela amor. Ela ama a glória dos púlpitos, porque isso não exige dela amor. Ela ama o estudo teológico frio, porque isso não exige dela amor.


Assim como Jesus desceu do céu e se fez carne, eu e você precisamos descer do pedestal da religião e encarnar o amor como a força que move a nossa missão e presença neste mundo.


Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Colossenses 3:14

A proclamação do evangelho só trará o efeito transformador prometido por Jesus se ela for regada pelas lágrimas de corações amados por Deus e cheios de amor para com o próximo. Não existe fé cristã sem amor!


Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. João 13:35

Deus se fez carne por amor. Subiu à cruz por amor. Ressuscitou por amor. Voltou aos céus por amor. Prometeu voltar para buscar a todos que amou e a todos que o amam.


A fé cristã é a religião do amor.


Após essa exposição bíblica, pode ser que você se sinta o pior dos pecadores ou o mais hipócrita dos religiosos, mas o amor de Cristo é poderoso para transformar você, perdoar seus pecados e preencher o vazio da sua alma com um amor que o mundo não pode lhe dar.


Renda-se ao Amor! Na cruz, o Amor amou!


O terceiro marco antigo a ser redescoberto é esse: toda a ética cristã e toda a lei de Deus se cumpre amando. Todos os pecados conhecidos no universo são resultado da falta de amor. O amor é a resposta, é a jornada virtuosa do cristão!


Seja cristão amando!


Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR

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