A Verdadeira Renúncia - Sermão de 10/08/2025
- Pastor Sérgio Fernandes

- 9 de ago.
- 9 min de leitura
Atualizado: 12 de ago.

Quando andavam pelo caminho, alguém disse a Jesus: “Eu o seguirei aonde quer que vá”. Jesus respondeu: “As raposas têm tocas onde morar e as aves têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem sequer um lugar para recostar a cabeça”. E a outra pessoa ele disse: “Siga-me”. O homem, porém, respondeu: “Senhor, deixe-me primeiro sepultar meu pai”. Jesus respondeu: “Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos. Você, porém, deve ir e anunciar o reino de Deus”. Outro, ainda, disse: “Senhor, eu o seguirei, mas deixe que antes me despeça de minha família”. Mas Jesus lhe disse: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o reino de Deus”. Lucas 9.57-62
INTRODUÇÃO
Nos dias de Jesus, as pessoas responsáveis pela formação dos mestres da Lei eram conhecidas como rabinos. Você já viu em filmes e séries esse personagem. Sim, eu sei que vocês assistem The Chosen!
Um rabino era mais do que um professor: ele era um mestre de vida.
Seus talmidins (discípulos) aprendiam com eles mais do palavras e ideias; eles buscavam imitar cada passo do mestre.
Seguir um rabino significava viver como ele vivia, pensar como ele pensava, falar como ele falava.
Essa era uma decisão de vida: esses talmidins deixavam para trás suas rotinas, seus trabalhos, e sacrificavam o tempo com a família e o lazer para se tornarem mestres e, no futuro, formarem seus próprios alunos, perpetuando a fé a tradição.
Jesus inspirou-se nesse modelo itinerante de formação para compor o seu núcleo de discípulos, sendo os doze apóstolos aqueles que estiveram mais próximos d’Ele.
Mas eles não foram os únicos.
Era natural que novos alunos se oferecessem para seguir os rabinos da época. E eles deveriam escolher aqueles que entendiam estar devidamente comprometidos com seus métodos de ensino.
Os evangelhos nos deixaram o relato de três discípulos que não foram aprovados para fazer parte da escola de Jesus. Essa história nos ensina muito sobre o que significa, de fato, seguir o nosso Mestre.
O discípulo que age sem medir os riscos do discipulado
E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores. E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Lc 9.57,58
Como afirmei anteriormente, nos tempos de Jesus, seguir um rabino não era um compromisso leve ou momentâneo: os talmidins (discípulos) deixavam suas casas, empregos e até famílias para acompanhar o mestre de perto.
Na passagem em questão, encontramos esse primeiro candidato a aluno que se ofereceu para seguir a Jesus.
Sua fala era explosiva e empolgante: "te seguirei para onde fores".
O Mestre, contudo, exitou em aceitá-lo.
Jesus percebeu que havia nele um entusiamo e empolgação que não levava em conta o alto custo do discipulado.
E isso era perigoso. Sabe por que?
A empolgação costuma esfriar à medida que a cruz pesa nos ombros.
É importante lembrar que, apesar das Escrituras enfatizerem a soberania divina na salvação (Efésios 2:8-9), cada seguidor de Cristo é chamado a uma caminhada fiel e perseverante.
Paulo nos adverte:
“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”, 2 Timóteo 4:7.
O discipulado é comparado nas Escrituras a um combate e uma corrida.
Não podemos reduzi-lo a um impulso momentâneo.
...
A resposta de Jesus deixa claro ao candidato à aluno que segui-lo não oferecia garantia alguma.
Eles nem sequer teriam lugar certo para descansar.
E isso deve ser um alerta para nós.
A nossa geração resiste ao conceito de sacrifício pessoal.
Eles até sentem desejo de servir a Deus e de fazer algum tipo de bem, desde que esse bem não atrapalhe sua agenda pessoal.
...
Inclusive, muitos cristãos hodiernos abraçam com entusiasmo a fé reformada pela idéia, errônea, de que a salvação pela graça exclui o alto preço do discipulado.
Essas não são duas idéias opostas, mas complementares.
Nosso Mestre nos chama para sermos seus alunos graciosamente, mas Ele faz isso habilitando-nos para suportarmos o peso da chamada.
E essa chamada vai custar tudo de nós.
Se o seu cristianismo não exige nada de você, acredite, ele não é aquele que foi ensinado por Jesus.
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”, Mateus 16:24.
O discípulo que se deixa levar só pela emoção, sem pensar nas consequências, está fadado a um discipulado frágil e incompleto.
Jesus não quer de nós apenas reações emotivas... Ele quer firmeza, compromisso e responsabilidade!
Então, seguir Jesus vai custar tudo de você: Fama, aplausos, prestígio, talvez amizades, posições sociais, em alguns casos pode custar até mesmo suas relações familiares.
Pedro entendeu o custo do discipulado e decidiu com firmeza seguir a Jesus. Quando inquirido se essa era mesmo a melhor decisão a ser tomada, ele afirmou assertivamente:
Desde então, muitos dos seus discípulos tornaram para trás e já não andavam com ele. Então, disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna, Jo 6.67,68
E nós... para onde iremos?
O discípulo COM PRIORIDADES CONFUSAS
E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá enterrar meu pai. Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu, vai e anuncia o Reino de Deus. Lc 9.59,60
Na tradição judaica, eram os alunos que se ofereciam para seguir o rabino que desejavam imitar. Aqui, como vocês podem ver, o método foi diferente.
Diferente do primeiro aluno, que se ofereceu para seguir a Jesus, este segundo foi chamado pelo próprio Cristo para sua escola itinerante.
Essa ruptura mostra uma das diferenças entre a escola de Jesus e de outros professores do seu tempo.
...
Ele, contudo, não entendeu a urgência desse chamado e pediu a Jesus se poderia, primeiro, sepultar o seu pai.
No contexto judaico do primeiro século, a vida familiar e as tradições comunitárias tinham uma importância enorme. Sepultar um pai era um dever sagrado, uma honra que manifestava respeito, amor e responsabilidade.
Mas essa "desculpa" não sensibilizou Jesus. Sua resposta enfática é: "deixe os mortos (espirituais) sepultarem os mortos (físicos). Você, porém, pregue o Reino do Céu".
Jesus demonstrou aqui a urgência e a prioridade absoluta do chamado para segui-lo.
Em uma escala do que realmente importa na vida, Jesus não deveria ocupar o primeiro lugar, mas o único lugar.
No evangelho, lealdade a Cristo não é algo negociável.
“Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6:33
...
Queridos irmãos, seguir a Cristo é um convite radical que exige colocar o Reino de Deus acima de todas as demais responsabilidades legítimas, sejam familiares, profissionais ou pessoais.
Jesus quer discípulos que entendam que o compromisso com Ele não pode ser colocado em segundo plano, em espera, ou condicionado por outras obrigações.
Esse tipo de discípulo, que vive adiando o compromisso pleno com Cristo, reflete a nossa realidade contemporânea.
Quando Jesus nos chama, nós sempre temos "um pai para sepultar"...
Criar meus filhos
Me estabilizar
Me formar
Ajuntar dinheiro
Curtir a vida
Realizar meus sonhos
O evangelho, de fato, não proíbe nada disso. Mas nada disso pode estar à frente do evangelho. Ele nos ensina a valorizarmos a família, a trabalharmos, a sermos previdentes, mas se o evangelho não estiver acima desses objetivos, eles tornam-se ídolos em nosso coração.
Somente seguindo Jesus como seu aprendiz essas coisas ganham o sentido correto.
Não é sobre criar os filhos, mas formá-los discípulos de Cristo;
Não é sobre se estabilizar, é sobre aprender a viver uma vida redimida e transformada;
Não é sobre se formar, mas sobre ser aluno dedicado de Jesus para inspirar outros;
Não é sobre ajuntar dinheiro, mas ser fiel a Deus, trabalhar e ter para dividir;
Não é sobre curtir a vida, mas sobre encontrar satisfação plena em Cristo;
Não é sobre realizar sonhos, mas encontrar propósito de vida nEle;
...
Em um mundo cheio de distrações, o Mestre busca aqueles discípulos que, como Paulo, consideraram tudo como secundário a fim de ganhar a Cristo.
Pensava que essas coisas eram valiosas, mas agora as considero insignificantes por causa de Cristo. Sim, todas as outras coisas são insignificantes comparadas ao ganho inestimável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, deixei de lado todas as coisas e as considero menos que lixo, a fim de poder ganhar a Cristo, Fp 3.7,8
Quando colocamos qualquer coisa antes do evangelho, estamos assumindo que Cristo é um obstáculo, e não a fonte da verdadeira vida.
Por isso, Jesus responde com firmeza, desafiando o discípulo a não postergar a decisão e a renúncia que o chamado exigia.
Nessa manhã, o que você precisa considerar como "perda" para "ganhar a Cristo"?
O discípulo COM PRIORIDADES CONFUSAS
Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa. E Jesus lhe disse: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus. Lc 9.61,62
No ambiente dos rabinos e seus talmidins, seguir um mestre não era uma decisão passageira ou superficial. Era um compromisso de vida que envolvia dedicação total e convicção firme.
Por isso, no texto acima percebemos um dilema fundamental.
Um novo candidato a aluno de Jesus aparece na história.
Ele expressa um compromisso aparente, mas seu coração ainda hesita.
E Jesus percebeu a hesitação.
O pedido para despedir-se da família revela uma inclinação para olhar para trás, uma dúvida que questiona se vale a pena abandonar tudo para seguir Jesus.
Essa atitude demonstrava sua dificuldade em romper definitivamente com a vida antiga e as relações passadas por amor a Jesus.
...
Jesus responde com a máxima dureza: “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lucas 9:62).
Jesus se utiliza de uma imagem agrícola para exemplificar: se o lavrador olhasse para trás, os sulcos que ele abriria na terra não seriam retos, comprometendo a semeadura e a qualidade da lavoura, o que traria prejuízos para o dono da fazenda e para os trabalhadores.
...
Na escola de Jesus, o nosso desenvolvimento depende de um foco constante na tarefa, sem distrações ou arrependimentos.
Não podemos tirar os olhos de Jesus!
Seguir a Jesus não é como seguir uma série ou o novo 'dorama' da vez.
É um compromisso integral de vida!
O verdadeiro discípulo possui uma convicção firme que o sustenta diante das dificuldades, dúvidas e tentações.
...
Não estou falando que um discípulo não pode sofrer medos, tristezas ou dúvidas. Eles fazem parte do nossa aprendizado.
Por que você está tão abatida, ó minha alma? Por que está tão triste? Espere em Deus! Ainda voltarei a louvá-lo, meu Salvador e meu Deus! Sl 42.11
Até Jesus se viu fraco e abatido. Mas isso não o fez parar ou perder o foco, antes, o colocou aos pés do Pai Celestial.
Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo. Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres. Mt 26.37,38
Assim como Jesus, não devemos olhar para trás.
Para trás só existia morte. Estamos nos colocando em risco espiritual grave.
Querido, desistir de Cristo é abraçar novamente o caminho da condenação.
É fazer as pazes com o inferno e com o diabo.
É cuspir na face do Deus que sangrou na cruz para salvar.
Esse discipulado sem convicção gera crentes fracos, infrutíferos, sem alegria de salvação.
...
O que fazer então nos momentos de dúvidas e incertezas?
Olhe para frente! Concentre-se no alvo! O alvo da Igreja é Cristo!
Direcione suas dúvidas e fraquezas até a cruz.
Por isso, levante-se nessa manhã.
Pegue a ferramenta que você largou!
Comprometa-se integralmente com Jesus!
Mantenhamos o olhar firme em Jesus, o líder e aperfeiçoador de nossa fé. Por causa da alegria que o esperava, ele suportou a cruz sem se importar com a vergonha. Agora ele está sentado no lugar de honra à direita do trono de Deus. Pensem em toda a hostilidade que ele suportou dos pecadores; desse modo, vocês não ficarão cansados nem desanimados. Hb 12.2,3
Se Jesus suportou tudo isso por amor da Sua Igreja eleita,
porque consideramos desistir uma opção?
...
A VERDADEIRA RENÚNCIA DAQUELES ALUNOS QUE DESEJAM SEGUIR JESUS
Para seguir Jesus de forma completa e fiel, precisamos abraçar uma padrão de renúncia que vai muito além de palavras ou intenções momentâneas.
A verdadeira renúncia envolve três compromissos sólidos, que Jesus deseja encontrar em seus aprendizes:
Primeiro, a renúncia da necessidade de reconhecimento; Eu darei o melhor para Cristo e viverei para ser esquecido! Ele deve se tornar cada vez maior, e eu, cada vez menor, João 3.30
Segundo, a renúncia integral dos prazeres desse mundo; Nada será mais precioso para mim do que Cristo! Onde seu tesouro estiver, ali também estará seu coração, Mateus 6:21
Terceiro, a renúncia do bem-estar e da zona de conforto; Se Ele sangrou por mim, viverei disposto a morrer por Ele! Porque, para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro." — Filipenses 1:21
CONCLUSÃO
Seguir Jesus não é um caminho fácil, mas é o chamado mais precioso que podemos receber.
O caminho do crucificado é um caminho de renúncia, mas, principalmente, de transformação!
Os talmidins seguiam seus rabinos muito de perto, literalmente andando logo atrás deles pelas ruas e campos.
Como as estradas e caminhos eram geralmente de terra, a poeira levantada pelos passos do rabino acabava cobrindo os discípulos, por isso se dizia que eles ficavam "sujos com a poeira dos seus rabinos".
O meu desejo nessa manhã é que eu caminhe tão perto de Jesus, e imite de tal modo o seu modelo sacrifical, a ponto de ficar sujo com a poeira de Seus pés... e ser achado nEle.
Que o Mestre nos abençoe!

Pastor Sérgio Fernandes
Pastor Titular da IPR





Comentários