Jesus é Rejeitado em Nazaré - Sermão de 25/06/2025
- Pastor Sérgio Fernandes
- há 2 dias
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Atualizado: há 14 minutos

Jesus saiu dali e foi para a sua cidade, acompanhado dos seus discípulos. Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga, e muitos dos que o ouviam ficavam admirados. ― De onde lhe vêm estas coisas? — perguntavam. — Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E este poder para realizar milagres? Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, José, Judas e Simão? Não estão aqui conosco as suas irmãs? E encontraram motivo de tropeço nele. Jesus lhes disse: ― Só na sua própria terra, entre os seus parentes e na sua própria casa, um profeta não tem honra. Ele não pôde fazer ali nenhum milagre, exceto impor as mãos em alguns doentes e curá‑los. E ficou admirado por causa da incredulidade deles. Mc 6.1-6
INTRODUÇÃO
Hoje, nesta nova reflexão bíblica em nossa jornada ao lado do Crucificado, faremos uma análise de uma emblemática passagem na vida de Nosso Senhor Jesus: a sua segunda rejeição em Nazaré.
Esse importante texto bíblico demonstra claramente que, mesmo tendo acesso a provas incontestáveis da divindade de Jesus, muitos prosseguiram em um estado de rejeição da sua mensagem e missão.
O Contexto da Passagem
É importante pontuarmos que os evangelhos apresentam para nós dois momentos de rejeição do ministério de Jesus em Nazaré.
O primeiro aconteceu logo após o seu batismo, quando ele visitou a sinagoga que frequentava e falou aos presentes a respeito do texto bíblico de Isaías 61, afirmando que aquela passagem estava se cumprindo em sua vida. Esse relato pode ser lido em Lucas 4.16-30.
Neste episódio, narrado por Lucas, a rejeição foi violenta, inclusive, com a tentativa dos judeus de matarem Jesus por suas alegações.
Todos os que estavam na sinagoga ficaram furiosos quando ouviram isso. Eles se levantaram, expulsaram‑no da cidade e o levaram até o topo da colina sobre a qual fora construída a cidade, a fim de lançá‑lo precipício abaixo. Jesus, porém, passou por entre eles e retirou‑se. Lc 4.28-30
Já o segundo episódio de rejeição, que será o objeto de nosso estudo de hoje, aconteceu posteriormente, logo após Jesus ter percorrido inúmeras cidades vizinhas e ter operado muitos milagres.
Mateus situa esse evento logo após a pregação das parábolas do Reino.
Já Marcos situa esse momento após a ressurreição da filha de Jairo (Mc 6.1).
Quando acabou de contar essas parábolas, Jesus saiu dali. Chegando à sua cidade, começou a ensinar o povo na sinagoga. Todos ficaram admirados e perguntavam, Mateus 13.53,54
Diferente da primeira rejeição, essa não teve relato bíblico de violência, apenas de incredulidade e desprezo.
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Nazaré estava localizada a cerca de 90km ao norte de de Jerusalém. Era uma aldeia pequena e sem prestígio na época de Jesus, com pouca relevância política ou religiosa. Isso é evidente na reação de Natanael em João 1:46:
“Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?”, Jo 1.46
Apesar de sua irrelevância, foi a cidade escolhida pelo Deus Encarnado para ser a sua cidade entre os homens.
Jesus é diferente da gente. Ele escolhe o que não tem valor algum e ali faz florescer lindas histórias!
e foi viver em uma cidade chamada Nazaré. Assim, cumpriu‑se o que fora dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno”. Mt 2.23
Hoje, Nazaré é uma cidade moderna em Israel, com uma significativa população árabe (tanto cristãos como muçulmanos), e é considerada um centro de peregrinação cristã.
Jesus volta a Nazaré
No primeiro versículo, vemos como a Providência conduziu Jesus de volta a Nazaré.
Jesus saiu dali e foi para a sua cidade, acompanhado dos seus discípulos. Mc 6.1
Ao longo das Escrituras, inúmeros personagens bíblicos experimentaram ciclos de retorno para suas terras natais a fim de cumprirem propósitos específicos:
Jacó, Moisés e Rute são alguns exemplos dessa afirmação.
Uma experiência muito gratificante que tive em minha caminhada com Jesus foi retornar à igreja da minha conversão como pastor. Ali, enfrentei batalhas enormes e colhi muitas bençãos no Senhor.
Jesus também voltou à Nazaré algumas vezes, sem, contudo, ter permanecido ali. Embora tivesse vínculo com o lugar, Ele estava aberto para viver de acordo com a vontade de Deus.
O vento sopra onde quer...
Um elemento interessante nesse texto é a menção da companhia dos seus discípulos com Ele. Jesus procurava manter seus discípulos por perto, criando as bases para a comunhão cristã e a nossa experiência atual de sermos o corpo de Cristo. A presença do Salvador com seus discípulos antecipa para nós a idéia da igreja local, que reúne aqueles que amam o Redentor ao redor de sua mesa.
O cristianismo é, em definitivo, uma religião de coletivos.
Se você deseja, de fato, estar com Jesus, precisa vencer o isolamento e aprender a caminhar ao lado dos discípulos dele.
ENSINAMENTOS NA SINAGOGA
No versículo seguinte, é explicado o motivo de Jesus ter voltado à nazaré. Leiamos Marcos 6.2.
Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga, e muitos dos que o ouviam ficavam admirados. ― De onde lhe vêm estas coisas? — perguntavam. — Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E este poder para realizar milagres? Marcos 6.2
Jesus não estava fazendo um passeio em sua cidade natal, mas prosseguindo com sua missão de anunciar as boas novas de salvação. Como parte do seu plano de ir primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel, ele continuamente ensinava nas sinagogas para seu próprio povo (Mt 10.5).
As sinagogas eram o centro religioso dos israelitas, onde eles se reuniam para estudar a lei e decidir assuntos de caráter comunitário.
As palavras de Jesus e sua autoridade causaram uma admiração inicial em seus ouvintes.
A admiração, contudo, rapidamente evoluiu para uma estranheza:
Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, José, Judas e Simão? Não estão aqui conosco as suas irmãs? E encontraram motivo de tropeço nele. Mc 6.3
Nesse momento, vemos que os ouvintes de Jesus passaram a duvidar dele por ser uma figura familiar. Ele era um morador de Nazaré. Era filho de carpinteiro. Sua mãe, seus irmãos e irmãs eram conhecidos de todos (sim, nós protestantes afirmamos com convicção escriturística que Jesus não foi o único filho de Maria).
É interessante: eles se maravilharam com a mensagem, mas estranharam o mensageiro.
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Muitas vezes, somos desafiados pelo fato de que Deus pode se utilizar de meios simplistas para nos responder.
Temos uma tendência natural de esperar pompa e cirncustância, mas Deus pode se valer de coisas simples e até mesmo de alguém sem parecer ou formosura para nos alcançar.
Isso porque nunca será sobre nós, mas sempre sobre Ele.
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Isso vale para nós, inclusive, quando pensamos na glória de Deus na igreja local. Temos uma tendência carnal de idolatrarmos líderes de grandes movimentos, pregadores, cantores, influencers de internet.
Mas não valorizamos os vasos humildes que Deus usa em nossa igreja local para nos encorajar no evangelho semana após semana.
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O que havia de errado com esses judeus de Nazaré então?
Esses homens reconheciam Jesus "segundo a carne", mas ainda não o haviam reconhecido como Senhor e Salvador.
De modo que, de agora em diante, a ninguém mais consideramos do ponto de vista humano. Ainda que antes tenhamos conhecido Cristo dessa forma, já não o conhecemos assim. 2 Co 5.16
Como você reconhece a Jesus?
Um Profeta sem Honra
Jesus, diante da rejeição dos ouvintes, proferiu uma das suas mais celebradas frases, registrada em Mc 6.4.
Jesus lhes disse: ― Só na sua própria terra, entre os seus parentes e na sua própria casa, um profeta não tem honra. Mc 6.4
Primeiro, observamos que Jesus identificou-se com a vasta lista de profetas que, antes dele, foram rejeitados pelo povo.
A rejeição daqueles que são enviados por Deus é recorrente entre o Seu povo.
Rejeitaram os profetas que anunciaram o Messias e depois rejeitaram o próprio Messias.
Qual dos profetas os seus antepassados não perseguiram? Eles mataram aqueles que prediziam a vinda do Justo, de quem agora vocês se tornaram traidores e assassinos, At 7.52
A familiaridade que os nazarenos tinham com Jesus tornou-se um obstáculo para darem ouvidos à sua mensagem.
Isso escancara um desafio para nós, cristãos: o risco de querermos definir a forma como Deus pode agir ou o que Ele pode ou não fazer.
Deus não deve ser colocado dentro de uma caixinha...
Nossa convergência de tradições, como pentecostais reformados, deve ser um norte para nossa "leitura" de que modo Deus cumpre a Sua vontade no mundo: nem devemos ser tolos, acreditando em qualquer circunstância, manifestação ou obra como sendo de Deus, e nem podemos ser incrédulos, duvidando de qualquer coisa que aconteça. A Bíblia deve ser usada como nosso crivo para discernirmos todas as coisas.
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Ele não pôde fazer ali nenhum milagre, exceto impor as mãos em alguns doentes e curá‑los. E ficou admirado por causa da incredulidade deles. Marcos 6.5,6
A conclusão do texto é desafiadora: Jesus foi 'tocado' pela incredulidade deles.
Essa era uma admiração relacional. É a mesma admiração que uma pessoa sente quando uma pessoa em perigo se recusa em aceitar ajuda.
Jesus encontrou fé genuína em gentios, que não buscavam por Ele, como o centurião (Lc 7.9), mas não a encontrou nestes nazarenos que o conheciam.
Ao ouvir isso, Jesus admirou‑se dele e, voltando‑se para a multidão que o seguia, disse: Eu lhes digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé. Lucas 7.9
Quando Cristo viu que o coração daquelas pessoas permanecia obstinado, Ele recusou-se a mostrar os inúmeros milagres que já havia operado nas cidades vizinhas.
Queridos, a incredulidade nos impede de ver mais de Deus. Isso não significa que a nossa incredulidade limita o poder de Deus, mas sim, limita nossa capacidade de enxergá-Lo com maior clareza.
Eu peço a Deus para tocar a Jesus pela minha adoração e devoção. Nunca pela minha incredulidade.
Como você tem tocado Jesus?
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Jesus nunca quis convencer ninguém com demonstrações de poder.
Os milagres de Cristo apenas apontavam para sua natureza divina, mas nunca tiveram propósito de convencimento espiritual.
Isso é um alerta: precisamos passar da "quarta série espiritual" de acreditar que precisamos ver milagres acontecendo o tempo todo para estarmos sendo aprovados por Deus. Isso não tem respaldo nas Escrituras.
Pensa comigo:
O martírio dos apóstolos aconteceu porque Deus não deu livramento para eles.
Paulo não pode curar a enfermidade de Timóteo;
Paulo não pode se livrar do espinho que tinha na carne;
Em algum desses pontos, onde não aconteceram milagres, Deus falhou ou a Sua Igreja?
Não!
Os moradores de Nazaré viram milagres e mesmo assim não creram.
Nossa fé não é sobre milagres, é sobre o Deus Encarnado pregado na cruz!
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Lembre-se disso: milagres não são o poder de Deus para salvação.
O evangelho é o poder de Deus para salvação.
Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro, do judeu e, depois, do grego. Rm 1.16
Milagres não convertem corações.O evangelho converte!
Por meio deste evangelho vocês são salvos, se guardarem firmemente a palavra que preguei a vocês; caso contrário, vocês têm crido em vão. 1 Co 15.2
O verdadeiro adorador não é reconhecido pelos milagres que recebeu, mas pela sua permanência como adorador quando os milagres não acontecem.
Milagres existem e acontecem, mas nossa religião não é sobre milagres, é sobre redenção!
CONCLUSÃO
Como vimos nesse texto, o Crucificado precisou lidar com a rejeição dos seus amigos, mas isso não o afastou de Sua missão.
Quero concluir esse sermão com duas aplicações:
Primeiro, eu e você podemos estar rejeitando a Cristo também. Apesar de termos clareza de sua natureza como Salvador e Senhor, podemos estar desprezando aquele que foi enviado para nos libertar do inferno. Nós rejeitamos a Jesus:
Quando não o tratamos como Senhor de nossas vidas;
Quando não nos apegamos com a Sua Palavra;
Quando abandonamos as orações;
Quando não contribuímos podendo contribuir;
Quando não caminhamos junto ao povo de Deus;
Quando preferimos o ódio ao invés do amor;
Quando permitimos que nossas vidas sejam governadas por nosso ego e não pela Palavra de Deus;
Sempre colhemos fracassos quando isso acontece... e as marcas deixadas podem durar para sempre... não rejeite a Cristo, submeta-se a Ele.
A segunda, nós, como servos de Cristo, podemos ser rejeitados também. Quando enfrentamos periodos de rejeição (que fazem parte natural do chamado de pessoas realmente chamadas por Deus) podemos nos apegar ao fato de que o Crucificado também sofreu a rejeição e a levou para a cruz.
Na cruz, quando nossos pecados foram colocados sobre Cristo, Ele sofreu a rejeição do próprio Pai, que por Sua santidade não tem parte com iniquidade alguma.
Mas Ele venceu! E a sua vitória na cruz e sua gloriosa ressurreição garantem que pecador algum será rejeitado por Deus se colocar a sua confiança de salvação em Cristo.
Jesus foi rejeitado para sermos aceitos! A Ele a glória para sempre!

Pastor Sérgio Fernandes
Pastor Titular da IPR
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