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Um Deus de Novas Oportunidades - Sermão 18/07/2021

Atualizado: 22 de jul. de 2021





A palavra do Senhor veio a Jonas pela segunda vez com esta ordem: "Vá à grande cidade de Nínive e pregue contra ela a mensagem que eu vou dar a você". Jonas 3:1,2

Introdução


O terceiro capítulo de Jonas é um dos mais interessantes do livro, principalmente pelo fato de, diferente dos demais, não existir nenhum evento sobrenatural que sustente a sua narrativa. Após ser devolvido à terra pelo grande peixe, Jonas finalmente tem a oportunidade de fazer aquilo que Deus havia lhe exigido, algo que ele aproveita com todas as suas forças. As ações que se sucedem ao longo dos dez versículos do capítulo nos mostram, claramente, como Deus, por sua graça, é especialista em nos oferecer nossas oportunidades.



segunda vez


Quando faço a leitura da Escritura, tento me ater a cada detalhe do texto, por mais simples que ele seja. Como sustento a posição de que a inspiração da Escritura é verbal e plenária (cada palavra e cada idéia inspirados pelo Espírito), tenho certeza de que nenhum fato narrado é sem importância. E por isso, a expressão "segunda vez" me salta aos olhos.


A palavra do Senhor veio a Jonas pela segunda vez com esta ordem, Jonas 3:1

Deus tinha um plano com Jonas e certamente sabia de cada detalhe a respeito de sua fuga e obstinação. E eu penso comigo: "por que Deus insistiu com Jonas?". Se Jonas fosse parte do meu time de trabalho, provavelmente eu o perdoaria mas não lhe daria nova chance. Mas a graça de Deus tirou Jonas da morte, o perdoou e o recomissionou. Para ele, aconteceu uma "segunda vez". E para nós, certamente aconteceram "segundas, terças, quartas e quintas vezes", porque as misericórdias do Senhor se renovam todas as manhãs. Nosso Pai Celestial é o Deus de novas oportunidades.



"Vá à grande cidade de Nínive e pregue contra ela a mensagem que eu vou dar a você". E Jonas obedeceu à palavra do Senhor e foi para Nínive. Era uma cidade muito grande; demorava-se três dias para percorrê-la. Jonas 3:2,3

É importante notar, contudo, que a nova oportunidade não era uma mudança na rota ou no projeto original de Deus. Jonas estava ouvindo pela segunda vez a palavra do Senhor, mas era exatamente a mesma palavra dita na primeira. Nossas fugas podem nos levar por caminhos tortuosos de pecados e idolatrias, mas quando a graça nos encontra, ela nos perdoa para fazermos aquilo que Deus espera de nós desde o princípio: que honremos e glorifiquemos o seu nome. O perdão de Deus pode mudar nosso destino, mas nunca o nosso própósito.


E como se distinguem a primeira e a segunda vez de Jonas! No capítulo 1, ele ouve a voz de Deus, mas decide seguir seu próprio coração, e o resultado disso foi desastroso. Na segunda vez, contudo, ele ouve a voz de Deus e segue sua jornada com fé naquilo que ouviu, e o resultado foi glorioso. Que tipo de orientação você tem seguido para sua vida espiritual?


a mensagem de jonas


A pregação de Jonas era uma advertência profética contra a cidade. De certo modo, sua palavra se assemelha ao anúncio regular que os cristãos fazem do evangelho da graça de Deus. Era uma palavra carregada com o peso do julgamento divino, mas que ao mesmo tempo transmitia alento e esperança. Uma das marcas da teologia reformada é a ênfase no evangelho completo, uma vez que não acreditamos que a boa notícia do evangelho possa ser comunicada sem o anúncio a respeito da ira e da santidade de Deus.


A mensagem de Jonas era "contra" a cidade de Nínive, isto é, uma advertência que deveria levá-los ao arrependimento. O evangelho pregado por Cristo e pelos apóstolos continha os mesmos elementos e isso não deve ser ignorado por nós, que somos a continuidade de séculos de cristianismo, anunciando no poder de Deus a mesma palavra. Vejamos:


Disse-lhes, pois, Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra. Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. João 8:42-44

E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. Atos 2:40

Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor, Atos 3:19

Devemos nos esforçar para não pregarmos um cristianismo sem cruz, uma salvação sem arrependimento e um avivamento sem a unção do Espírito. Que Deus nos guarde em sua santa vontade!


a conversão de nínive


Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: "Daqui a quarenta dias Nínive será destruída". Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco. Jonas 3:4,5

O impacto das palavras de Jonas nos habitantes de Nínive foi avassalador. Diferente do profeta, que ouviu a palavra de Deus e no primeiro instante, a desobedeceu, os ninivitas aceitaram a exortação e espontaneamente proclamaram um jejum para apaziguar a ira de Deus. O que teria causado essa comoção no coração daqueles bárbaros pagãos?


  • Primeiro, é provável que a notícia sobre como Jonas sobreviveu na barriga do grande peixe tenha chegado à cidade antes do profeta.

  • Segundo, é plausível que Jonas tenha trazido no corpo as marcas do que viveu durante a tempestade e nos três dias no estômago do peixe.

  • Terceiro, aquilo que estava marcado no corpo também havia mudado a alma de Jonas. Eu particularmente não acredito que ele queria o bem dos ninivitas, mas percebo que ele aprendeu que lutar contra a vontade de Deus era um mal negócio.

  • Quarto, é óbvio que a ação sobrenatural do Espírito no coração dos ninivitas os conduziu a uma experiência de arrependimento generalizada. Sem que Deus opere, nenhum bem espiritual pode acontecer!


Uma das lições que aprendemos em Jonas é o papel que o jejum desempenha no plano de Deus e no modo como nos relacionamos com Ele. Irmãos oriundos de igrejas neopentecostais consideram o jejum uma forma de apressar "bençãos de Deus" ou constrangê-lo a nos atender naquilo que necessitamos. O que percebemos, contudo, é que o jejum é um ritual que demonstra a nossa fome de Deus e desejo de estar em conformidade com Ele. É uma declaração pública de que dependemos e somos sustentados somente por Ele. Na Bíblia, o jejum sempre é associado a arrependimento, mudança de coração e confissão de pecados.


Nós, cristãos, podemos e devemos jejuar, afinal, é uma disciplina estimulada pelo Senhor Jesus. Mas devemos fazer isso com a motivação correta no coração, para que não se torne uma prática carnal e que gere em nós orgulho ao invés de santificação.


"Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os homens vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, ponha óleo sobre a cabeça e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê no secreto. E seu Pai, que vê no secreto, o recompensará". Mateus 6:16-18
Jesus respondeu: "Como podem os convidados do noivo ficar de luto enquanto o noivo está com eles? Virão dias quando o noivo lhes será tirado; então jejuarão. Mateus 9:15

do maior ao menor


O poder de Deus manifestado na proclamação de Jonas foi tão intenso que até mesmo o rei de Nínive (que deve ser identificado como o imperador Assírio, uma vez que a cidade era a capital do império) se arrependeu e buscou ao Senhor em oração e jejum. Tocado pelas palavras do profeta, ele ordenou um jejum por toda a cidade, e ordenou que o povo não apenas orasse, mas também mudassem seus caminhos diante do Senhor. Como é interessante pensarmos que um pagão de alta patente tenha tido uma entrega tão intensa ao Senhor enquanto Jonas, a princípio, preferiu fugir de Deus ao invés de buscá-lo.


Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu-se de pano de saco e sentou-se sobre cinza. Então fez uma proclamação em Nínive: "Por decreto do rei e de seus nobres: Não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas provar coisa alguma; não comam nem bebam! Cubram-se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência. Jonas 3:6-8

A fé em Deus não deve ser reduzida a um mero assentimento ideológico, emocional ou afetivo. Crer em Deus significa submeter nosso coração ao seu senhorio e aceitar seus mandamentos com todas as nossas forças. Foi assim com os ninivitas e deve ser com todo aquele que professa o nome do Senhor. Vivemos dias em que os crentes levantam mãos no culto de adoração no domingo e tornam a vida das pessoas um inferno ao longo da semana. Isso não é cristianismo. Não podemos confiar nossas vidas a Deus e continuarmos lendo horóscopo. É impossível afirmarmos que amamos ao Senhor e continuar confiando nossas vidas a ídolos sem vida. Se a suposta conversão que vivemos não mudou nosso coração, ainda não experimentamos a graça salvífica.


Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece inabalável e selado com esta inscrição: "O Senhor conhece quem lhe pertence" e "afaste-se da iniqüidade todo aquele que confessa o nome do Senhor". 2 Timóteo 2:19

deus retira sua sentença


A conversão dos ninivitas causou o efeito esperado e, como previu Jonas (Jn 4.2), Deus retirou sua ira e poupou os habitantes da cidade. Essa sentença bíblica é uma daquelas que deixam os crentes confusos, porque temos a percepção de que Deus não muda seus decretos, embora existam passagens bíblicas específicas onde isso aconteceu. Como entender esse fato?


Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos destruídos". Deus viu o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos. Então Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado. Jonas 3:9,10

As ações e decretos de Deus podem ser distribuídos em diversos tipos. Todo decreto das alianças de Deus são firmes e não podem ser mudados. Mas entre as comunicações de Deus com a raça humana, existem as advertências proféticas, como essa de Jonas, que eram uma ameaça, não uma condenação absoluta, cujo objetivo era levar seus ouvintes ao arrependimento. Como os ninivitas cumpriram a condição de se converterem de seus maus caminhos, o Senhor anulou o julgamento tendo em vista o arrependimento genuíno que eles tiveram. Assim como Jonas, eles receberam de Deus uma segunda chance.


O Deus Soberano ordena tanto os meios como os fins do seu plano soberano, e de acordo com o modo como os homens respondem a sua palavra, Ele é livre para lhes responder do modo como quiser. Ele pode anular uma sentença, adiá-la, diminuir ou aumentar o grau do castigo, enfim, Deus faz o que quer e como quer.



conclusão


O capítulo três de Jonas é repleto de pistas sobre como a graça de Deus opera, sempre oferecendo a nós novas oportunidades de honrá-lo e glorificá-lo. E essa obra gloriosa é operada em nosso coração pelos méritos da morte e da ressurreição de Jesus. Diferente de Jonas, Cristo obedeceu ao Pai até a morte, e morte de cruz. Para que eu tivesse novas oportunidades, Cristo foi fiel na única oportunidade que teve. Por reconhecer minha inconstância, Jesus foi constante. Por saber da obstinação do nosso coração, ele entregou-se como um sacrifício voluntário ao Seu Pai. Para que eu recebesse a graça, ele tomou para si a ira, e assim, abriu o caminho para que eu possa ser levantado todas as vezes que cair.


Talvez, ao meu ouvir, você seja um cristão errante, afastado dos caminhos do Senhor e que tem fugido daquilo que o Senhor tem reservado a você. Sua vida custou o sangue de Cristo na cruz. O sofrimento dEle não te constrange a amá-lo e obedecê-lo? Como podemos deixar de viver por aquele que morreu para nos dar a vida?


Mas pode ser que você seja como um ninivita, que tenha um coração desobediente por não conhecer o amor de Deus revelado em Cristo. O evangelho convida aqueles que vivem escravos dos seus pecados a encontrarem liberdade no Senhor Jesus Cristo. Ele pagou na cruz o preço dos pecados daqueles que serão salvos e suportou a ira de Deus por eles. Ouça a meiga voz do Amado o chamando para segui-lo. Não rejeite o único que pode lhe salvar da condenação e te atrair em amor aos braços do Pai Celestial.


Que Ele te abençoe!



Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR


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