o rico e lazaro - sermão de 10/09/2025
- diegopaula
- 10 de set.
- 8 min de leitura
O RICO E LÁZARO
Graça e a Paz do nosso Senhor Jesus Cristo estejam com todos vocês.
Vamos mergulhar em uma das parábolas mais impactantes e, talvez, desconfortáveis, que Jesus nos deixou. Uma história que desafia tudo o que pensamos sobre riqueza, pobreza e salvação.
Em um mundo onde as pessoas estão em busca de milagres e ensinamentos que as ajudem a entender o propósito de suas vidas, a parábola do Rico e Lázaro é uma das que mais gera debates e discussões teológicas.
Essa parábola, encontrada em Lucas 16:19-31, é uma das passagens mais complexas e discutidas dos Evangelhos. Para uma compreensão completa, é preciso ir além da leitura superficial e analisar a fundo o seu contexto e a intenção de Jesus ao contá-la.
"Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia em luxo todos os dias. À porta de sua casa, jazia um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas, que ansiava comer o que caía da mesa do rico. Até os cães vinham lamber suas feridas.
Chegou o dia em que o mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão. O rico também morreu e foi sepultado. No Hades, onde estava em tormento, ele olhou para cima e viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado. Então, ele clamou: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo’.
Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembre-se de que em vida você recebeu coisas boas, enquanto Lázaro recebeu coisas ruins. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui, e você está em tormento. Além disso, há um grande abismo entre nós e vocês, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu para o nosso, não podem’." (Lc. 16:19-26)
Contexto Histórico e Teológico
Jesus conta essa parábola para um público de fariseus, que eram conhecidos por sua avareza e por distorcerem a Lei de Moisés para justificar sua riqueza e status social (Lucas 16:14). A parábola é uma resposta direta à sua hipocrisia e ao seu desprezo pelos pobres e marginalizados.
Os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus. (Lucas 16:14)
É fundamental entender que a parábola não é uma descrição literal do céu e do inferno. Jesus usa uma linguagem simbólica e figuras de linguagem, familiares aos seus ouvintes, para transmitir uma mensagem central. Não se trata de uma revelação sobre a geografia do além-túmulo, mas sim sobre o juízo final e a inversão de papéis que ocorrerá após a morte.
Vamos a principio entender quem são os Personagens e os Símbolos:
O Rico (sem nome): Representa a elite judaica, que confiava em sua riqueza e status como sinal do favor de Deus. Sua riqueza não é condenada em si, mas sim seu egoísmo e sua indiferença ao sofrimento de Lázaro. Ele é "vestido de púrpura e linho fino", roupas que representavam o mais alto luxo da época.
Lázaro: O nome Lázaro significa "Deus ajuda". Ele é um mendigo que representa os pobres e oprimidos, que eram desprezados pela sociedade judaica da época. Ele está cheio de chagas e anseia pelas migalhas que caíam da mesa do rico. Sua pobreza e sofrimento são contrastados com o luxo e a fartura do rico.
O Seio de Abraão: É uma expressão judaica que simboliza o paraíso, o lugar de descanso e conforto para os justos após a morte.
O Hades: O termo grego Hades é usado para se referir ao mundo dos mortos, não necessariamente o inferno como o conhecemos hoje. No contexto da parábola, o Hades é o lugar de tormento para o rico, em contraposição ao descanso de Lázaro.
O Grande Abismo: O grande abismo que separa o rico de Lázaro é um símbolo da separação irrevogável entre os justos e os ímpios após a morte. A decisão de crer em Jesus, ou de rejeitá-lo, tem consequências eternas.
A Teologia por Trás da História
O que Jesus nos ensina aqui vai muito além da riqueza e da pobreza. Essa parábola é um espelho que reflete as verdades mais profundas da nossa fé. Jesus usa essa história para nos ensinar sobre a Justiça de Deus e a Soberania da Sua Graça.
A parábola não é uma descrição literal da geografia do céu e do inferno, mas sim uma representação simbólica do juízo final e da separação eterna. O rico e Lázaro personificam duas realidades espirituais: a indiferença e a fé.
O Rico (a indiferença): A Bíblia não revela seu nome, o que sugere a sua insignificância espiritual.
Lázaro (a fé): Seu nome, que significa "Deus ajuda", é o único a ser mencionado, destacando a sua importância aos olhos de Deus. Ele não é salvo por ser pobre, mas pela graça de Deus que o sustentou em sua fé, mesmo em meio ao sofrimento.
Os Abismos Que Nos Cercam
A parábola nos apresenta três grandes abismos que ainda hoje nos confrontam:
1. O Abismo da Indiferença:
A tragédia não é a riqueza do rico, nem a pobreza de Lázaro. A tragédia é o abismo da indiferença que existia entre eles. O rico via Lázaro todos os dias, mas agia como se ele não existisse. O dinheiro, o status e o luxo criaram um abismo em seu coração que o impediu de enxergar a humanidade do seu próximo.
Onde estão os Lázaros da nossa vida? Eles estão nas ruas, nas nossas comunidades, e até mesmo em nossas famílias. A indiferença nos cega para o sofrimento e nos impede de amar o próximo como a nós mesmos. A pergunta não é se você tem muito ou pouco, mas se o seu coração está endurecido pela indiferença e se a sua fé se manifesta em amor prático.
Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade. (1João 3:17,18)
2. O Abismo da Eternidade:
A morte inverte a ordem das coisas. Lázaro é levado ao "seio de Abraão", um lugar de descanso e conforto. O rico, por outro lado, é lançado no Hades, um lugar de tormento e sofrimento. A parábola nos ensina que a decisão de crer em Jesus, ou de rejeitá-lo, tem consequências eternas.
Abraão revela ao rico que a separação entre eles é permanente. O grande abismo é a separação irrevogável entre os salvos e os condenados após a morte.
Não há segunda chance, não há purgatório. A salvação é uma decisão que tomamos nesta vida. A fé em Cristo é a única ponte que nos permite atravessar este abismo e entrar na presença de Deus.
Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo, (Hebreus 9:27)
3. O Abismo da Depravação Total
Mesmo em tormento, o rico ainda está tentando negociar e dar ordens. Ele não pede perdão, mas apenas um alívio temporário para seu sofrimento. Seu coração continua endurecido, demonstrando a realidade da depravação total da humanidade. O homem, por si só, é incapaz de se arrepender genuinamente ou buscar a Deus. Essa é a primeira das Doutrinas da Graça.
"Como está escrito: ‘Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer’."(Romanos 3:10-12)
A Mensagem da Graça e da Palavra
O clímax da parábola ocorre quando o rico pede que Lázaro volte para avisar seus irmãos. A resposta de Abraão é a chave de toda a história:
"Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam... Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos." (Lucas 16:29, 31)
Aqui, Jesus nos ensina uma das verdades mais importantes da fé cristã, A Palavra de Deus é suficiente! Não precisamos de milagres, visões ou experiências sobrenaturais para sermos salvos. A Bíblia é a nossa única e final autoridade de fé e prática. Se a nossa vida não se inclina diante da Palavra, nenhuma outra evidência será capaz de mudar o nosso coração.
A fé que salva é uma resposta ao que a Bíblia ensina. Para onde você tem olhado? Para milagres, para profecias ou para a Palavra de Deus?
A salvação de Lázaro não foi por seus méritos, mas um ato de Graça de Deus que ajuda, elege e salva quem Ele quer, de acordo com a sua soberana vontade. Ele não salvou Lázaro por ele ser pobre. Ele foi salvo por um ato soberano e eficaz de Deus em Sua vida. O rico, por sua vez, confiou em suas obras, em seu dinheiro, e não na graça de Deus.
"Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie."(Efésios 2:8-9)
Este versículo para nós aqui da IPR, que já estamos bem familiarizados com os 5 solas, resume as verdades centrais da Sola Gratia (somente a graça) e da Sola Fide (somente a fé). A salvação é um dom gratuito de Deus, recebido somente pela fé em Cristo, e não por méritos humanos.
E a parábola que estamos discorrendo hoje também aponta para um dos solas, e pra mim o maior de todos os Solas: Solus Christus (somente Cristo). Ao falar sobre "Moisés e os Profetas" sabemos que Jesus é o cumprimento perfeito da lei de Moises e os profetas.
E disse-lhes: "Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos". (Lucas 24:44)
Ele é o único mediador entre Deus e os homens, o único que atravessou o abismo da nossa condição pecaminosa. Na cruz, Jesus Cristo suportou o tormento que merecíamos, e em Sua ressurreição, Ele nos deu a vitória. Em João 14:6 Jesus deixa bem claro isso:
"Respondeu Jesus: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim’." (João 14;6)
Ele é a única ponte que nos conecta a Deus.
Conclusão
Amados, a parábola do Rico e Lázaro nos confronta com a dura realidade de um abismo: o abismo da indiferença; o abismo da eternidade que separa os salvos dos condenados ao inferno. Mas, no fim, essa história aponta para um abismo muito maior: o abismo entre um Deus santo e a humanidade caída.
O rico, em seu tormento, pedia que um dos mortos voltasse para advertir seus irmãos. Mas Abraão, na parábola, nos revelou uma verdade eterna: a única ponte sobre esse abismo é a Palavra de Deus. E essa Palavra, a totalidade das Escrituras, aponta para a única Pessoa capaz de saltar esse abismo: Jesus Cristo.
Como vimos, foi Jesus, o Filho de Deus, quem se tornou o cumprimento perfeito de "Moisés e os Profetas". Ele é a única Graça Irresistível que pode transformar um coração totalmente depravado. Ele é o único que nos oferece uma salvação somente pela graça, recebida somente pela fé.
Jesus Cristo não é apenas um mensageiro ou um exemplo. Ele é o próprio Solus Christus, o único mediador entre Deus e os homens. Ele desceu do céu, atravessou o abismo da nossa condição pecaminosa e, na cruz, suportou o tormento que merecíamos. Ele morreu e ressuscitou para que pudéssemos ser levados para junto do Pai, não por anjos, mas por Sua obra redentora.
Portanto, parábola do Rico e Lázaro nos confronta com uma pergunta crucial: Em que você confia para a sua salvação?
Não é sobre ser rico ou pobre. É sobre a sua fé. Sua confiança está na sua bondade, nas suas conquistas ou no dom da graça de Deus, recebido somente pela fé, para a glória de Deus?
A nossa salvação não é para a nossa glória, mas para que Deus seja glorificado em tudo o que somos e temos.
Que essa parábola nos mova a fechar o abismo da indiferença em nosso coração, a confiar somente em Cristo para a nossa salvação, e a viver para a glória de Deus. A Ele, a glória para todo o sempre.
Amém.





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