Os Dons Ministeriais - Sermão de 17/11/2024
- Pastor Sérgio Fernandes
- 5 de nov. de 2024
- 10 min de leitura
Atualizado: 17 de nov. de 2024

Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, outros para pastores e mestres. Efésios 4.11
Introdução
Ser uma comunidade carismática não é simplesmente uma escolha de caráter confessional e teológico. É o desejo de sermos a igreja conforme planejada pelo Senhor Jesus.
Na primeira reflexão da série #UmaIgrejaCarismática, ouvimos a respeito dos dons comunitários, que movem a igreja a ser a comunidade de fé, que acolhe, ensina e amadurece cada membro do corpo de Cristo.
Na segunda reflexão, aprendemos a respeito dos dons extraordinários, que são manifestações do Espírito que favorecem o avanço do Reino de Deus e a evangelização.
Todos esses carismas provém do mesmo Espírito e cumprem o papel de formar, edificar e enviar a comunidade à missão e ao cumprimento de Sua vocação.
Hoje falaremos à respeito dos dons ministeriais, que são aqueles dons presentes na liderança da igreja cristã e que promovem a unidade da fé e o amadurecimento da comunidade.
Por sermos uma comunidade bíblica e que acredita na convergência das tradições, temos um desafio na interpretação do texto base e nas possíveis aplicações dele para nossa vida comunitária.
Então, nada melhor do que iniciar esse sermão relembrando o contexto da carta onde tais dons são mencionados.
O CONTEXTO DA EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS
A carta aos Efésios é uma das cartas mais profundas e teológicas de Paulo, e nela ele expõe a grandiosidade do plano de Deus para a salvação e a formação da igreja.
Paulo escreveu aos crentes em Éfeso com o objetivo de fortalecer sua compreensão da fé cristã e da unidade do corpo de Cristo, ajudando-os a entender quem eles são em Cristo e como isso impacta a vida em comunidade.
Em Efésios 1, Paulo demonstra como Deus está executando seu plano de redenção a fim de formar a comunidade cristã e definir a nossa identidade como povo de Deus. A Igreja é uma comunidade eleita, predestinada, redimida e selada pelo Espírito Santo.
Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e sem culpa diante dele. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu graciosamente por meio do Amado. Nele temos a redenção por meio do seu sangue, o perdão das transgressões, de acordo com as riquezas da sua graça, a qual ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e todo o entendimento. Efésios 1.4-8
Em Efésios 2, Paulo demonstra que a graciosa salvação de Deus uniu em um só corpo pecadores perdoados dentre os judeus e gentios.
Pelo sangue vertido na cruz, cada pecador eleito que é redimido pelo Senhor se torna membro da família de Deus. Todas as barreiras que nos dividem são superadas pelo poder do sangue redentor!
Porque Cristo é nossa paz. Ele uniu judeus e gentios em um só povo ao derrubar o muro de inimizade que nos separava. Ele acabou com o sistema da lei, com seus mandamentos e ordenanças, promovendo a paz ao criar para si, desses dois grupos, uma nova humanidade. Assim, ele os reconciliou com Deus em um só corpo por meio de sua morte na cruz, eliminando a inimizade que havia entre eles. Efésios 2.14-16
Em Efésios 3, Paulo mostra que o mistério de Deus foi revelado: judeus e gentios haveriam de, em Cristo, se tornarem participantes da mesma herança celestial.
E este é o segredo revelado: tanto os gentios como os judeus que creem nas boas-novas participam igualmente das riquezas herdadas pelos filhos de Deus. Ambos são membros do mesmo corpo e desfrutam a promessa em Cristo Jesus. Efésios 3.6
Depois de estabelecer a base teológica e espiritual de nossa identidade em Cristo nos capítulos 1 a 3, Paulo começa o capítulo 4 com um apelo prático aos cristãos: eles devem andar de maneira digna da vocação que receberam (4.1).
Portanto, como prisioneiro no Senhor, suplico-lhes que vivam de modo digno do chamado que receberam. Efésios 4.1
É neste contexto que Paulo apresenta os dons que Cristo deu à igreja em Efésios 4:11 — apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres — para equipar os santos, edificar o corpo de Cristo, e promover a unidade e maturidade espiritual.
Esses dons são um reflexo da obra redentora de Cristo e são destinados a fortalecer e unificar a igreja em seu chamado.
A ideia de Paulo é que, assim como Deus revelou Seu propósito redentor e formou um novo povo, Ele também capacita e equipa esse povo para crescer em maturidade e unidade.
APOSTOLOS E PROFETAS, O FUNDAMENTO DA UNIDADE E MATURIDADE
Os dois primeiros dons listados em Efésios 4.11 merecem uma atenção especial dos intérpretes da Bíblia, uma vez que eles são objeto de atenção em outras passagens das Escrituras.
Em dois versículos anteriores de Efésios, Paulo já havia destacado o papel singular que apóstolos e profetas tiveram no plano de Deus para fundamentar a Igreja através da revelação das Escrituras que hoje compõe o Novo Testamento.
Neste contexto, os apóstolos e os profetas aqui descritos são considerados como aqueles que lançaram os alicerces da doutrina do NT. Leiamos as passagens em destaque:
Juntos, somos sua casa, edificados sobre os alicerces dos apóstolos e dos profetas. E a pedra angular é o próprio Cristo Jesus. Efésios 2.20
(...) que não foi revelado às gerações anteriores, mas agora foi revelado, pelo Espírito, aos santos apóstolos e profetas. Efésios 3.5
John Piper, importante teólogo reformado, sugere que esse aspecto fundacional dos apóstolos e profetas é distinto e único no primeiro século. Nisso concordam também os primeiros pais da igreja.
A partir do momento em que as Escrituras foram finalizadas, esses dois ofícios cumpriram o seu propósito e deixaram de ser necessários para o cumprimento do plano de Deus.
Por isso, nos dias atuais, ninguém tem autorização divina para identificar-se como 'apóstolo' ou 'profeta'. Os que assim fazem contrariam tanto o texto sagrado quanto a história de nossa fé.
Reafirmamos com isso nosso alinhamento com a tradição reformada nesse assunto em questão.
Contudo, analisando Ef 4.11, John Piper também reconhece que o Novo Testamento demonstra a existência de dons ministeriais similares a esses ofícios, que podem continuar de forma distinta e limitada, sem o mesmo grau de autoridade ou papel de estabelecer doutrinas.
Citando o próprio Piper, ele afirma a respeito do texto em questão:
“Cristo deu líderes à igreja para que eles equipem os santos para o trabalho do ministério. Todo cristão é chamado ao ministério de uma forma ou de outra, e os dons de liderança devem servir para preparar e capacitar o povo de Deus para realizar a obra de Cristo no mundo.”
Uma vez estabelecidos esses pontos, podemos agora estudar, um a um, os dons ministeriais.
o dom de apóstolo
Cristãos que recebem o dom de apóstolo, no contexto atual, são entendidos como enviados para plantar igrejas, expandir o evangelho e lançar fundações ministeriais em lugares onde Cristo não é conhecido.
Não são apóstolos no sentido fundacional dos Doze, mas têm um ministério pioneiro que envolve estabelecer novas obras e fortalecer a igreja.
Saúdem Andrônico e Júnias, meus compatriotas judeus que estiveram comigo na prisão. São muito respeitados entre os apóstolos e se tornaram seguidores de Cristo antes de mim. Romanos 16.7
Os apóstolos hoje seriam missionários e plantadores de igrejas que têm um chamado para estabelecer novas obras e supervisionar o desenvolvimento das igrejas em áreas onde o evangelho é pouco conhecido.
Eu reconheço claramente na figura do Pr. Ronaldo Lidório um autêntico ministério de dom de apostolo. A paixão missionária que move o coração desse pastor faz arder em chamas nosso desejo de vermos os povos não alcançados aos pés de Jesus Cristo.
Que Deus levante em nossa comunidade irmãos dispostos a levar o evangelho para outras frentes!
o dom de profeta
É necessário distinguir esse dom ministerial do dom de profecia. Enquanto em 1 Co 12 se trata de uma fala espontânea com fins de fortalecimento, encorajamento e consolação (1 Co 14.3), o dom ministerial de profeta se trata de um dom de liderança, cujo papel é, através das Escrituras, promover sensibilidade espiritual, direcionamento e, muitas vezes, correção. Eles também desempenham um papel em guiar a igreja em momentos de crise ou decisão.
Entre os profetas e mestres da igreja de Antioquia da Síria estavam Barnabé e Simeão, chamado Negro, Lúcio de Cirene, Manaém, que tinha sido criado com o rei Herodes Antipas, e Saulo. Certo dia, enquanto adoravam o Senhor e jejuavam, o Espírito Santo disse: “Separem Barnabé e Saulo para realizarem o trabalho para o qual os chamei”. Atos 13.1,2
É importante lembrar que o dom de profeta não lança novas revelações ou estabelece novos fundamentos além do que já recebemos pelas Escrituras Sagradas.
Por isso, um membro do corpo de Cristo que exerce esse dom falará ao coração do povo pelas Escrituras, e somente por elas, ora exortando, ora consolando, ora edificando, mantendo o coração da comunidade focado em Cristo e na Palavra de Deus.
Eu reconheço claramente na figura do Pr. Paulo Junior, da Igreja Cristã da Aliança, um autêntico ministério de dom de profeta. A quantidade de pessoas que esse obreiro tirou de falsas igrejas, encaminhando-as à comunidades bíblicas saudáveis, só será conhecido no céu.
o dom de evangelista
Evangelistas são aqueles que têm o dom de proclamar o evangelho de forma clara e eficaz, trazendo pessoas a Cristo. Têm uma paixão pelo anúncio do evangelho, frequentemente demonstrando um carisma especial para alcançar os perdidos e motivar a igreja para a evangelização.
No dia seguinte, prosseguimos para Cesareia e nos hospedamos na casa de Filipe, o evangelista, um dos sete que tinham servido na igreja em Jerusalém. Atos 21.8
Você, porém, seja moderado em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério. 2 Tm 4.5
Irmãos que recebem esse dom dedicam suas vidas para compartilhar as boas novas de Cristo de maneira relevante e eficaz. Servem como inspiração e treinamento para que outros na igreja também participem na evangelização.
Billy Grahan foi um exemplo de um autêntico dom de evangelista. Sua paixão pela evangelização levou milhões de pessoas aos pés de Jesus Cristo.
Que Deus levante novos homens e mulheres como ele, que sejam inconformados com o mundo e apaixonados pela conversão dos pecadores!
o dom de PASTORES-MESTRES
Pastores-mestres têm a responsabilidade de cuidar do povo de Deus, ensinando, orientando e alimentando a igreja com a Palavra.
É importante apontar que, no texto grego, não são dois dons distintos, mas apenas um.
Isso faz sentido, uma vez que para aqueles que são chamados para apascentar o rebanho a capacidade de ensinar outros é um critério fundamental.
É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar. 1 Tm 3.2
Deve apegar‑se firmemente à mensagem fiel, conforme lhe foi ensinada, para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela. Tt 1.9
Os pastores-mestres são aqueles que pastoreiam, aconselham e ensinam a igreja. Trabalham para edificar a maturidade espiritual dos membros, ajudando-os a crescer no conhecimento de Cristo e a desenvolver uma vida espiritual saudável.
Entendo que esse dom seja o de maior relevância para a formação do povo de Deus. Deus pode usar irmãos que abram novas frentes para levar o evangelho mais longe. Pode usar pessoas que nos instiguem a sairmos do marasmo espiritual para reavivar nossa fé. Pode usar evangelistas para nos levar aos pés de Cristo.
Mas são os pastores-mestres que nos acompanharão por toda nossa jornada com Jesus, até atingirmos a estatura de varões perfeitos.
UMA APLICAÇÃO FINAL
O fato de Cristo conceder dons ministerias específicos para a edificação da igreja sugere para nós que nossa plena maturidade espiritual depende do trabalho fiel de ministros que tenham recebido tais dons.
com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. Ef 4.12,13
Se quisermos cumprir à vontade de Deus e vivermos à plenitude do Seu plano para nossas vidas, devemos contar com o acompanhamento de lideres piedosos que nos estimulem a crescermos em nossa fé em Jesus.
Cristãos que andam ladeados com líderes piedosos crescem na fé e na comunidade; Numa era de individualismo, a presença de dons de liderança reforça que o plano de Deus sempre passa pela comunidade.
Através de bons conselhos dados por líderes piedosos, teremos maior facilidade de discernir à vontade de Deus e fazermos melhores escolhas ao longo de nossa jornada cristã; Cristianismo não é fé de final de semana: É a fé de cada dia, até partirmos para nos encontrarmos com Cristo.
A existência de dons ministeriais indicam que a igreja foi planejada para ser conduzida por líderes vocacionados pelo próprio Deus e que um cristão bíblico deve aceitar ser apascentado e conduzido por tais pessoas. Se andarmos à margem da comunidade e de suas lideranças, colheremos problemas reais na maturação de nossa fé.
Lideres bíblicos sempre formarão cristãos emancipados e frutíferos. Observe a vida de irmãos que são vulneráveis e frágeis na comunidade. Na maior parte das vezes, são cristãos que ignoram o privilégio de serem pastoreados e que preferem viver suas vidas renunciando esses presentes dados pelo próprio Cristo à Igreja.
O propósito é que deixemos de ser como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas ou jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina, pela astúcia e pela esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em todas as coisas naquele que é a cabeça, Cristo. Efésios 4.14,15
CONCLUSÃO
Os dons ministeriais são concedidos por Cristo à Igreja para que ela seja edificada, cresça em maturidade espiritual e cumpra a missão de proclamar a glória de Deus no mundo.
Cristo, o Ministro Supremo, reparte Seus dons de liderança e serviço com o Seu povo, capacitando-nos, como Igreja, a sermos a continuidade visível de Sua missão redentora.
Há diferentes tipos de serviço, mas o Senhor é o mesmo. 1 Co 12.5
Cristo, como Apóstolo, foi enviado ao mundo pelo Pai, e hoje, como Senhor da Igreja, Ele envia Seu povo para abrir novas frentes de evangelização. Somos chamados a proclamar o Evangelho, para que os eleitos de todas as nações sejam trazidos à fé salvadora em Sua obra redentora na cruz.
Cristo, como Profeta, revelou a vontade de Deus e nos libertou do pecado. Hoje, como cabeça da Igreja, Ele levanta a Sua Igreja como porta-voz da Sua Palavra, equipando-a para proclamar a verdade que liberta corações cativos, levando-os a render-se ao Senhor.
Cristo, como Evangelista, veio ao mundo anunciando boas novas de salvação, chamando ao arrependimento e à vida eterna. Hoje, Ele envia Seu povo a proclamar com coragem e amor a salvação que Ele conquistou com Seu sangue na cruz, para que todos conheçam o caminho da paz com Deus.
Cristo, como Pastor-Mestre, alimentou e conduziu Seus discípulos, levando-os às fontes de verdadeira vida e verdade. Hoje, Ele concede à Igreja pastores segundo o Seu coração, que cuidam, ensinam e orientam o rebanho, guiando-o no caminho da justiça e da piedade.
Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil. Hebreus 13.17
Que o Senhor graciosamente fortaleça Sua Igreja, derramando sobre nós, por meio de Cristo, dons abundantes pelo Espírito Santo, para que, unidos na fé e no amor, alcancemos a estatura de varões perfeitos em Cristo.
A Ele seja a glória para todo o sempre! Amém.

Pastor Sérgio Fernandes
Pastor Titular da IPR
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